Ainda a propósito da Olimpíada de 2016, um dos comentários recorrentes nos últimos dias tem sido o de que a escolha do Rio de Janeiro revela o novo status do Brasil no cenário mundial. Em artigo no IDG Now, por exemplo, Clayton Mello se entusiasma ao identificar a questão olímpica com a evolução do mercado digital no País, agora que alguns grandes grupos estrangeiros estão investindo aqui. Ele cita a agência americana Eyeblaster, especializada em marketing digital, que acaba de montar escritório aqui; a agência de publicidade Razorfish, também dos EUA, que anuncia fazer o mesmo em 2010; e a venda do site de pesquisa de preços Buscapé para o grupo sul-africano Naspers, confirmada na semana passada – o Naspers é o mesmo grupo que meses atrás adquiriu 30% da Editora Abril. Melo ainda recua no tempo para citar as vendas das agências Click, ao grupo inglês Isobar, e Tribal para o francês Digitas, negócios concretizados em 2008 – todas são empresas de mídia digital. Empolgado, lembra ainda que Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, esteve no Brasil recentemente falando em aumentar os investimentos aqui. Ufa!
Ou seja, esse processo não começou com o interesse do Brasil em organizar a Olimpíada ou a Copa do Mundo. O País está há alguns anos no radar dos grandes grupos internacionais. Mais precisamente desde que conseguiu estabilizar sua economia. E sua atratividade aumenta na medida em que os mercados tradicionais – basicamente EUA, Europa e Japão – entram em declínio. Sem querer estragar a festa de ninguém, é preciso ressalvar tudo isso para que os mais incautos não pensem que estamos vivendo um sonho dourado. É o que dá a entender o texto do IDG Now: “… não é necessário esperar até 2014 ou 2016 para que os brasileiros se reconheçam como estrelas internacionais – o Brasil já é o país da moda. Entre as razões que atraem os olhares do mundo para cá estão uma economia forte, capaz de sair da crise internacional antes das potências europeias e dos EUA, e uma política externa afirmativa, que inseriu o País nos grandes fóruns decisórios internacionais”.
Política externa afirmativa? Com Chavez, Zelaya, Morales e cia? Vamos falar sério. Sim, o Brasil está na moda – assim como Índia, África do Sul, Turquia, Chile e outros países, porque tem um grande mercado interno e o custo das empresas aqui é relativamente barato, comparado com as americanas, européias e asiáticas. Ponto. Agora, esse tipo de ufanismo oportunista me causa enjôos.
Claro que, com moeda e democracia estáveis, torna-se um grande destino para investimentos. Ótimo que seja assim. Vai ser importantíssimo para a atual e as próximas gerações. Que bom seria aproveitar essa fantástica oportunidade para, de fato, corrigir desigualdades sociais, investir seriamente em educação e infraestrutura! Aí, sim, seria só correr para as medalhas.
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