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Wikipedia já não é mais aquela

Uma super-enciclopédia, maior do que qualquer outra que alguém já tenha visto ou consultado, e que pudesse estar disponível a qualquer pessoa quando bem entendesse, em qualquer lugar do mundo: essa era a idéia original do americano Jimmy Wales quando, em 2001, criou a Wikipedia. Belas intenções. Wales e seu amigo Larry Sanger começaram sozinhos a montar os arquivos e a enviar e-mails pedindo colaborações voluntárias. Em poucos meses, milhares de pessoas pelo mundo afora haviam se incorporado ao esforço dos dois, servindo ao mesmo tempo como co-produtores da tal enciclopédia e como divulgadores da novidade.

Pois é, acho que todos que me lêem já entraram pelo menos uma vez na Wikipedia e utilizaram os dados ali disponíveis. Agora, uma ótima reportagem do The Wall Street Journal mostra que aquele velho sonho acabou. Não, a maior fonte de informações da internet não está saindo do ar. Mas sua sobrevivência está ficando mais difícil a cada dia. No início do mês, Wales – cujo cargo atual é de presidente da Wikimedia Foundation, com sede em San Francisco – anunciou uma campanha para arrecadação de dinheiro que cubra os custos de manutenção do site, estimados em US$ 5,6 milhões. A fundação tem 34 funcionários trabalhando em tempo integral, mas baseia sua existência na colaboração de mais de 3 milhões de “editores” ao redor do mundo, que escrevem em dez idiomas diferentes.  Só nos primeiros três meses deste ano, cerca de 49.000 deles simplesmente abandonaram o barco, ou seja, cansaram-se do trabalho voluntário.

A explicação é que Wales e seus diretores tiveram que impor regras mais rígidas para as atualizações do site. O slogan original da Wikipedia – “uma enciclopédia livre, que qualquer pessoa pode editar” – revelou-se um problemão quando visitantes passaram a colocar ali informações falsas e até mesmo ofensas. Com as novas regras, um comentário pode ser simplesmente rejeitado, ou deletado, pelos editores escolhidos por Wales. Aliás, como em qualquer site ou blog, inclusive este aqui. A liberdade total, uma utopia de Wales nove anos atrás, mostrou-se simplesmente inviável na prática.

Vejam como a internet imita a vida real: democracia demais às vezes atrapalha.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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