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Os últimos serão os primeiros

A primeira vez que li a expressão “early-adopters” deve fazer uns vinte anos. Demorei a entender. Foi como os marketeiros americanos decidiram chamar aqueles consumidores obcecados pelas novidades e que querem sempre ser os primeiros a comprar um produto – qualquer produto. No caso da indústria eletrônica, que vive da inovação, esses personagens são endeusados. São eles que aceitam pagar o preço de um aparelho assim que é lançado, sem se importar ao ver o mesmo produto ser vendido, meses depois, por valores bem mais baixos. Custei a entender também a razão desse comportamento.

Pois foi a febre em torno do iPad, superando até mesmo a do iPhone quando ninguém acreditava que isso fosse possível, que levou o repórter Damon Darlin, do The New York Times, a investigar por que tantas pessoas se submetem a pagar mais quando todo mundo sabe que esse aparelho – assim como todos os outros – terá versões melhores, e mais baratas, nos próximos meses. A reportagem – ilustrada pela foto acima – saiu traduzida no Estadão desta segunda-feira; vale como uma aula de marketing. Darlin foi ouvir pesquisadores e profissionais, como o professor Dam Ariely, autor do livro “Previsivelmente Irracional”, que fez uma excelente comparação: as pessoas podem pagar mais caro por um carro supostamente “ecológico”, mas resistem a investir valores bem menores para, por exemplo, instalar em casa um sistema de aquecimento que economizaria muito mais energia do que o tal automóvel.

A lógica por trás dessa atitude, conclui Darlin, é que os early-adopters querem ser vistos e admirados ao desfilarem com a última novidade. O fenômeno iPad, que segundo a Apple vendeu 1 milhão de unidades em menos de um mês, só vem comprovar essa teoria. O aparelho foi lançado nos EUA ao preço sugerido de 500 dólares (a versão básica), e a própria Apple anunciou que em breve sairia outra versão por 130 dólares; ainda assim, muitos optaram pela versão top, com 64GB de memória, que custa US$ 830. Como explicar? Darlin lembra o que houve em 2007 com o iPhone: saiu por US$ 600, dois meses depois custava US$ 400, e a versão 2009, com o dobro da capacidade, foi lançada por US$ 200!

Talvez mais interessante ainda seja analisar a avidez com que esses usuários correm às lojas. Alguns chegam a dormir na calçada na noite anterior, à espera de que as portas se abram. Outro pesquisador ouvido na reportagem, Jay Choi, da Universidade de Michigan, os chama de “cobaias”, e não se trata de ofensa: “Eles são pioneiros e prestam um serviço valioso aos demais consumidores. Se não existissem os early-adopters, os produtos levariam muito mais tempo para fazer sucesso”, diz Choi.

Pois é, obrigado às cobaias. Faço minhas as palavras de Darlin: quando sair o próximo iPhone, fiquem na fila por mim.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • O terceiro parágrafo contém uma informaão euivocada, na verdade não foi anunciada uma versão de 130 dolares e sim uma versão com 3G que custaria 130 dolares a mais.

  • ótimo artigo, gostaria de sugerir um que foque na incompatibilidade dos óculos das fabricantes de tv's 3D com outras marcas.

  • Confesso que sou early-adopter e as novas tecnologias dos últimos vinte anos em eletrônica de consumo, chegaram ao meu grupo familiar e de amigos através de mim... Mas dormir na fila e gritar histérico ao entrar numa loja da Apple é demais. Tudo tem limite, hhehehe. Excelente matéria.

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