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Dispois que nóis vai…

Adoniran Barbosa (autor do bordão acima), Guimarães Rosa, João do Rio e outros gênios brasileiros que brincaram, respeitosamente, com nosso idioma devem estar se remoendo em seus túmulos com a notícia mais revoltante dos últimos meses: o Ministério da Educação e Cultura está distribuindo às escolas públicas quase 500 mil exemplares de um livro chamado “Por uma Vida Melhor“, escrito por uma certa Heloisa Ramos, professora, que defende o uso incorreto do idioma português. Essa senhora acha que não há problema em alguém dizer, por exemplo, “os peixe” ou “os menino vai”, e inclusive estimula seus alunos a fazê-lo, sob o argumento de que essa é a linguagem comum das ruas. Criticar quem fala e escreve dessa maneira seria, na sua opinião, “preconceito linguístico”.

Pior do que a edição do livro em si – que, segundo o colunista Ancelmo Góis, de O Globo, rendeu à autora nada menos do que R$ 700 mil – foi a nota oficial do MEC, ao ser questionado por tamanha irresponsabilidade: não quer se envolver na polêmica!!! Quando um país chega ao ponto em que o ministério responsável pela educação se exime de opinar diante de caso tão clamoroso, é o caso de se perguntar: para que serve, então, o ministério? E para que servem os milhares de professores de português que tentam ensinar o idioma a crianças e jovens?

Meu filho de 17 anos, que atualmente estuda exaustivamente para o vestibular, não se conformou ao saber da história. Felizmente, ele não está entre os que, como a tal professora, desprezam o próprio idioma. Mas, como diz o jornalista Augusto Nunes neste texto brilhante, “a celebração da ignorância é um insulto aos pobres que estudam”. Como meu filho, tenho direito de me sentir insultado.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Orlando,parece que o MEC solucionou mesmo a questão do ensino do idioma pátrio nas escolas,um verdadeiro "ovo de Colombo".Cada um escreve e fala como quiser,os professores não precisam ensinar(e nem aprender)e ninguém poderá sofrer "preconceito linguístico(este também logo deverá ser transformado em crime).É brincadeira este país...

  • Revoltante! O governo, como no caso mensalão e outros, "lava as mãos" e dá de ombros, se eximindo de uma responsabilidade que é exclusivamente sua. Na França e outros países desenvolvidos, a preservação e o culto à língua, como expressão cultural, é tão ou mais importante que símbolos outros, como a bandeira ou o hino nacional. Fico enojado com isso!

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