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TV paga na Rocinha

Em meio à intensa cobertura que a mídia deu à ocupação da favela da Rocinha, neste fim de semana, me chamou a atenção uma reportagem de Paulo Cabral, da BBC Brasil, cujo link me foi passado pela colega Cristina de Luca, via Twitter. Fugindo ao lugar-comum das coberturas desse tipo, geralmente focadas na visão da polícia e dos governantes, o repórter foi investigar a economia informal abrigada ali. Entrevistou uma vendedora de TV por Assinatura via satélite que, de madrugada, acompanhou pela TV a ação da polícia; por volta das 8hs da manhã, quando viu que “estava tudo tranquilo”, ela foi à rua para fazer o que já tinha feito quando da invasão do Morro do Alemão. “Quando a polícia entra, logo começa a cair o ‘gatonet’, e aí o pessoal que não quer ficar sem TV apela para a gente”, contou a moça, que se identificou apenas como “Maria”.

TV por assinatura é um dos serviços mais procurados na Rocinha, assim como acontece hoje em quase todo o país. Só que, em favelas e comunidades onde o Estado não chega com os serviços básicos que toda a população merece, o ‘gatonet’ toma conta do mercado. Pacificado e livre dos traficantes, um local como a Rocinha tem enorme potencial de consumo, e é isso que a maioria dos seus moradores deseja: poder consumir como as pessoas, digamos, comuns – e não apenas produtos falsificados ou trazidos em troca de drogas.

Tomara que a ação da polícia carioca, que o jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira descreveu como “cinematográfica”, não seja apenas isso: mais uma farsa montada para dar votos aos políticos de plantão. Depois de tantos anos de domínio do tráfico, com a conivência e/ou participação direta do poder público, resgatar essas comunidades para uma vida “normal” era mais do que obrigação do Estado. Ainda é cedo para dizer que é um sucesso, até porque a ação foi divulgada com tal antecedência, e tantos detalhes, que houve tempo de sobra para os bandidos fugirem e, quem sabe, se instalarem em outra vizinhança. De qualquer modo, todos devemos torcer. Só assim os favelados do bem poderão assistir televisão e ter a vida digna que merecem.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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