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A culpa é do mordomo!

Diz com sabedoria o colunista José Simão que “o Brasil é o país da piada pronta”. Hoje mesmo, li a notícia de que um juiz paulista condenou um morador de rua a “prisão domiciliar” – o coitado, que sofre de problemas mentais, corre agora o risco de ser preso, “por não cumprir a sentença”; e, se você não acredita, leia aqui. Talvez fosse o caso de sugerir a prisão do tal juiz, não?

Tão ou mais inacreditável é essa decisão da AGU (Advocacia Geral da União) de obrigar o Twitter a bloquear contas de usuários que dão dicas sobre locais onde a polícia de Goiás faz blitz de trânsito. Como se sabe, o Twitter está começando a implantar uma nova política de privacidade, que pretende vetar mensagens que afrontem as leis em vigor. Naturalmente, esse é um procedimento complicado para uma rede mundial, já que as leis mudam de um país para outro. O que é crime no Brasil pode não ser nos EUA ou no Japão, e por aí vai. Mas o que o governo brasileiro está tentando, através dessa medida delirante, nada tem a ver com política de privacidade. Parece mais um daqueles antigos filmes B, em que o culpado do crime acabava sempre sendo o mordomo.

Pensando bem, é um ato tão absurdo que deveria merecer reprovação pública, através de redes como o próprio Twitter. O problema é que, no Brasil, a maioria das pessoas usa essas redes para “jogar conversa fora”, desperdiçando o seu tempo (e o dos outros). O jornalista inglês Mark Hillary, que vive em São Paulo desde o ano passado, não se cansa de ironizar hábitos tupiniquins como esse. Sobre a questão da AGU, ele matou a charada em poucas linhas: é para dar a impressão de que o governo de fato se preocupa com a questão da segurança no trânsito. “No Brasil, beber e dirigir em alta velocidade são coisas consideradas normais”, escreve Hillary. “Basta entrar num bar qualquer e ver a quantidade de chaves de carro nas mesas, ao lado dos copos de cerveja. Não é o Twitter que vai resolver isso… E, além do mais, há outras formas bem mais rápidas de passar esse tipo de mensagem”.

É isso. Precisa vir um estrangeiro jogar isso na nossa cara!

 

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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