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Mensalão, quinzenão, semanão…

Meu velho pai morreu acreditando que o homem jamais pisou na Lua. Quando viu as imagens pela TV, achou que era tudo montagem… Lembrei dele ao ler, nos últimos dias, comentários na internet sobre o Mensalão. Incrível a cara de pau das pessoas que ainda dizem que tudo aquilo foi “invenção da imprensa”. Devem acreditar em Papai Noel, na visita da cegonha e similares.

Agora que o Supremo Tribunal Federal anunciou para agosto o julgamento do caso, começam a se espalhar pela web as versões mais disparatadas para, de duas uma: ou desviar o foco para outros assuntos (que, aliás, não faltam) ou apelar para a surrada ladainha de que não há provas. A última que li foi que ninguém provou que havia pagamentos mensais e, portanto, não cabe a palavra “mensalão”. Quanta criatividade! Se fossem pagamentos quinzenais, teríamos que usar, talvez, “quinzenão”? E se foram, digamos, de vez em quando, como defini-los? O mero fato de ter havido pagamentos, não importa a periodicidade, como já confirmaram a PF e a Procuradoria Geral da República, parece ser apenas um detalhe, não?

Aparentemente, essa estratégia está saindo da cabeça de Marcio Thomaz Bastos, aquele advogado que defende qualquer um desde que lhe paguem. E que consegue sentir-se à vontade trabalhando, ao mesmo tempo, para Carlinhos Cachoeira e para o PT, dizendo que um nada tem a ver com o outro. Bastos, que já defendeu todo tipo de criminoso, está no seu papel. Assim como se espera que um réu, qualquer um, negue seu crime até a morte. Como já disse um político americano, todo mundo tem direito a dizer o que pensa; agora, ser levado a sério é outra coisa…

O problema está nas pessoas que, sete anos após o escândalo, ainda ficam na dúvida. Esquecem, por exemplo, que o próprio ex-presidente Lula foi à televisão para pedir desculpas pelos atos de seus afilhados de partido. E que o próprio PT destituiu alguns dos acusados. Ora, se não havia nada irregular, por que pedir desculpas? E por que afastar companheiros tão queridos?

Felizmente, parece que a maioria dos cidadãos de bem não estão caindo nessa. E nota-se um crescente movimento em favor de um julgamento isento no STF. Entidades como MuCo (Movimento Contra a Corrupção), Movimento Ficha Limpa, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e Associação Brasileira Contra a Corrupção e a Impunidade prestam um grande serviço ao país, denunciando e esclarecendo os casos que aparecem todos os dias. Via Twitter, Facebook e todas as mídias disponíveis, as pressões para que o STF não deixe passar mais essa oportunidade são não apenas legítimas, mas fundamentais.

Se é que ainda queremos falar em democracia e dignidade.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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