Categories: Uncategorized

STF e as pequenas operadoras

A semana foi agitada no segmento de TV por Assinatura. Hotéis de Brasilia ficaram lotados com a presença de empresários e executivos que foram participar de dois eventos: audiência pública convocada pelo Supremo Tribunal Federal para discutir a polêmica lei 12.485 e Seminário Políticas de (Tele)Comunicações, promovido pela Converge. Os temas são áridos, e talvez seja difícil para o usuário entender o que está por trás dos debates. Vou tentar aqui fazer um resumo, usando boa parte dos comentários do competente Samuel Possebom, do site Tela Viva.

A discussão sobre a Lei do SeAC parece não ter fim. O texto aprovado pelo Congresso foi um verdadeiro frankenstein, tão mal escrito que só poderia mesmo dar margem a ações judiciais. Três delas estão no STF, que até o momento não se sente capaz de julgá-las. Cada uma aponta problemas distintos. A ação proposta pela NEO TV, entidade que representa pequenos e médios operadores de TV por assinatura, contesta o fim das licitações para concessão de novas autorizações por parte da Anatel. Sem licitações, o mercado fica aberto “de forma indiscriminada”, alega a NEO TV, e isso, é claro, prejudica as empresas menores.

A lei também proíbe as operadoras de produzir programas: numa pequena região, o conteúdo local é importantíssimo, e se a operadora não o fizer ninguém irá gerar esse tipo de programa. A proibição se estende às empresas coligadas da operadora, caso da Rede Bandeirantes, proprietária, ao mesmo tempo, de uma rede de TV aberta e de uma operadora de cabo (a SIMTV) que atua em várias cidades. “Essa regra nos impede, no futuro, de oferecer ao espectador a conveniência de uma segunda tela, a possibilidade de acompanhar nossos conteúdos onde ele quiser”, argumenta o vice-presidente da Band, Walter Ceneviva, também autor de uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a lei no Supremo.

Há ainda no STF ações contra a lei, movidas pela Sky e pelo partido Democratas. Isso quer dizer que a discussão não tem prazo para terminar, muito menos o julgamento pelo plenário do Supremo. Interessante é como setores organizados se manifestam a respeito. O Sindicato dos Trabalhadores de TV a Cabo (Sincab) diz temer que, com a nova lei, muitas operadoras acabem fechando as portas e, com isso, demitindo funcionários. A própria Band se queixa de algo que beneficia sua maior rival, a Globo. Esta, como se sabe, vendeu suas participações na Net e na Sky justamente para se beneficiar da lei (a Globosat, hoje, é apenas uma fornecedora de conteúdo, via seus canais pagos).

Em certos momentos da audiência pública, defensores da lei chegaram a argumentar que as mudanças foram responsáveis pelo crescimento do mercado de TV por assinatura, que em dezembro superou a marca de 16 milhões de domicílios. Omitiram, portanto, que o setor já vem crescendo bastante desde 2009 (no ano passado, aliás, a expansão foi até menor que nos anos anteriores). Se o ministro Luiz Fux, relator do processo no STF, der ouvidos a esse tipo de argumento, corremos o risco de ver a lei piorada, e não melhorada.

Em tempo: quem quiser acompanhar as audiências no Supremo, pode acessar este link. Vejam também nosso hot site que trata do assunto.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

Share
Published by
Orlando Barrozo

Recent Posts

Até onde chega o brilho das TVs?

Meses atrás, chamávamos a atenção dos leitores para os exageros nas especificações de brilho das…

2 dias ago

Netflix lidera, mas cai mais um pouco

                  Em outubro de 2021, publicávamos -…

1 semana ago

Inteligência Artificial não tem mais volta

Pouco se falou, na CES 2025, em qualidade de imagem. Claro, todo fabricante diz que…

4 semanas ago

TV 3D, pelo menos em games

                          Tida como…

4 semanas ago

TV na CES. Para ver e comprar na hora

Para quem visita a CES (minha primeira foi em 1987, ainda em Chicago), há sempre…

4 semanas ago

Meta joga tudo no ventilador

    Uma pausa na cobertura da CES para comentar a estapafúrdia decisão da Meta,…

4 semanas ago