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4G: caro e para poucos, bem poucos!

Os americanos inventaram a expressão early adopters para definir as pessoas que gostam de ser as primeiras a comprar (e naturalmente exibir) as novidades eletrônicas. O hábito virou uma espécie de mantra na sociedade de consumo. Esses privilegiados acabam servindo como cobaias para a indústria, e não só a eletrônica, testando e divulgando as qualidades dos produtos. O único problema é que divulgam também, e com muito mais ênfase, os defeitos, ainda mais em tempos de mídias sociais.

No Brasil, onde quase tudo em tecnologia é copiado dos EUA, os early adopters são facilmente encontráveis em aeroportos, casas noturnas e shopping centers. Já vi alguns, por exemplo, portando orgulhosos seus smartphones 4G, que algumas operadoras começaram a vender recentemente. A outra face desse exibicionismo precoce está na constatação de que, por melhores e mais bonitos que sejam os aparelhos, as redes simplesmente não funcionam. “É como você pagar por uma carruagem que no meio do caminho vira abóbora”, explicou a implacável coordenadora da Proteste, Maria Inês Dolci. A entidade fez um levantamento mostrando que essas redes estão funcionando como as tradicionais (e ruins) 3G e acusou as operadoras de “propaganda enganosa”. Rapidamente, a Anatel – que havia dado prazo até esta terça-feira para que as prestadoras começassem a oferecer o serviço 4G – rechaçou as críticas; só não quis garantir que as redes de fato funcionam…

Toda essa correria se deve ao fato de que o governo brasileiro prometeu à Fifa que o 4G estaria disponível nas cidades onde haverá jogos da Copa das Confederações, a partir de junho. Como São Paulo está fora da competição, e não teria cabimento, em termos mercadológicos, lançar o serviço excluindo a capital paulista, inventaram essa data (30 de abril). As operadoras então se apressaram no lançamento, certamente sem ter a infraestrutura adequada ainda.

O mais curioso, e que o governo até agora vem escondendo, é que nosso 4G não é compatível com o de países importantes. Na semana passada, a competente jornalista Dani Braun, do site G1, mostrou em detalhes essa aberração. O Brasil está implantando redes 4G somente na frequência de 2,5GHz, utilizada na Europa, enquanto EUA, Argentina e Uruguai – três dos países que mais mandam turistas para cá – trabalham na faixa de 700MHz. Ou seja, quem vier desses países não vai conseguir usar a rede; e os brasileiros que forem para lá com seus vistosos smartphones 4G, também não. Se derem sorte, os europeus que vierem assistir aos jogos (Itália e Espanha participam) talvez consigam. Mas nem a Anatel garante.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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