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A guerra das frequências

Falta de pessoal técnico capacitado, e em quantidade insuficiente, indefinições regulatórias, interferências políticas e pressões de todos os lados – esse é o quadro por trás da atual disputa em torno da faixa de frequências de 700MHz. Já comentamos aqui – e a imprensa vem divulgando seguidamente – que emissoras de TV e operadoras de telefonia travam uma batalha nesse campo. Para ampliar a rede de celular 4G, o governo obrigou as emissoras a liberarem as frequências que ficarão vagas com a transição para o sinal digital. Insatisfeitas, as redes de TV reagiram denunciando que as conexões telefônicas irão gerar interferências, inviabilizando as transmissões de TV. Uma suspeita à qual o Ministério das Comunicações não tinha como responder (pelo visto, seus técnicos jamais haviam ouvido falar nesse risco).

O mais recente episódio dessa guerra de frequências veio na semana passada, na forma de um estudo que teria sido realizado pelo governo japonês, em parceria com a operadora local KDD, comprovando que redes LTE (o sistema de celular 4G escolhido pelo Brasil) e de TV digital não convivem bem, na faixa de 700MHz. Se for verdade o que dizem as emissoras e foi publicado no site Tela Viva, trata-se de uma das maiores aberrações técnicas já vistas no país. A escolha do padrão se baseou apenas nos parâmetros do 3GPP, organismo internacional que coordena os estudos em banda larga, e que garante não haver interferência do sinal de TV sobre o LTE, mas não assegura o contrário. Os japoneses teriam confirmado agora que o maior prejuízo se dá nas transmissões de televisão; fizeram testes de laboratório durante dois anos, usando até filtros para amenizar o problema, e gastaram cerca de US$ 3 bilhões nesse processo.

Evidentemente, o governo brasileiro não terá como investir sequer metade disso – até porque, pelo visto, os japoneses já fizeram o trabalho mais complicado. Resta saber qual a ginástica política que poderá levar a um acordo entre dois setores (emissoras e operadoras) com tamanho poder de pressão. E tendo no meio um governo que faz estudos desse nível.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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