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Televisão vs celular: risco para os usuários

Na manhã desta quinta-feira, a SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão) convocou a imprensa para fazer chegar ao consumidor os temores que já circulam no mercado há mais de um ano: é cada vez mais sério o risco de muitos brasileiros ficarem sem sinal de televisão aberta quando entrarem em operação as novas redes de telefone celular 4G. Após exaustivos testes, os engenheiros da SET concluíram que não há como evitar interferências entre os dois tipos de sinal; no máximo, dizem eles, será possível mitigar (minimizar) o estrago.

Já comentamos o tema aqui no ano passado, e apesar da gravidade o que se nota é que Anatel e Ministério das Comunicações parecem não dar muita importância ao problema. Segundo Ana Eliza Faria e Silva, diretora de tecnologia da SET, a legislação atual – sintetizada na Resolução 625, de novembro passado – não garante a convivência entre os sinais de TV digital e LTE (4G) na faixa de 700MHz, escolhida pelo governo. É onde se encontram os canais analógicos 38, 39, 40, 46, 51 e 52, atualmente usados pelas redes abertas.

Ana Eliza chegou a exibir um gráfico que mostra a distribuição das torres de celular (as chamadas ERBs, estações rádio-base) na região da Avenida Paulista, a mais “congestionada” da cidade de São Paulo. É assustador. As torres das emissoras estão concentradas em prédios da avenida, e em torno delas há, segundo a SET, mais de 1.300 ERBs. Se estas forem usadas para transmitir 4G, será quase impossível assistir a canais de TV aberta por ali. Imagino que problemas semelhantes devam ocorrer em outras grandes cidades (mais detalhes aqui).

“As ERBs trabalham com uma potência 25 vezes mais alta que a das torres de televisão”, explicou Ana Eliza. “Terá de haver uma redução, mas ainda assim acontecerão interferências. O usuário certamente será prejudicado, correndo o risco de ter que trocar seu televisor, além de mexer na própria estrutura de sua instalação.”

Pode haver também problemas na recepção dos celulares, embora as operadoras até agora não tenham se pronunciado oficialmente a respeito. A princípio, seguiam a argumentação do governo, de que os temores seriam “exagerados”. Para abril, está marcado o leilão do 4G, quando então saberemos quais operadoras ficarão com quais frequências. O que a SET deseja, pelo visto, é alertar a população e, com isso, quem sabe, fazer o governo (e as próprias teles) se mexer antes do leilão. Até porque quem vencer é que terá de pagar essa conta.

Incrível, mesmo, é as autoridades ficarem assistindo a tudo isso de braços cruzados. Pelo menos, é o que parece. No site da Anatel, a última notícia a respeito é dezembro passado, e sem qualquer informação sobre que providências estariam sendo tomadas. Se é que estão!

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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