A esta altura da campanha eleitoral, todo mundo já sabe que não pode nem deve confiar nas promessas dos candidatos. Programas de governo são peças de ficção, nunca informam de onde virá o dinheiro para realizar “tudo aquilo”. Que o país precisa de reformas urgentes, é consenso, mas nenhum candidato sabe (alguns não fazem a menor de ideia…) como conduzir as negociações com o Congresso; e, se não for à base de negociação, só mesmo fechando o Congresso! Adivinhei? Era nisso que você estava pensando?

Calma, eu sei que o filme dos congressistas está queimado há anos e, para quem gosta de falsas soluções, esvaziar aquele prédio suntuoso com duas metades de uma bola até que não seria má ideia. Só que, lamento, não é por aí. Como já disse Churchill, uma das frases mais repetidas da História, a democracia é um péssimo sistema de governo, mas ainda não inventaram nenhum outro melhor (não foi exatamente essa a frase, mas era isso que o velho charuteiro queria dizer).

Ainda que muitos pensem votar em Bolsonaro, por exemplo, na esperança de que ele feche o Congresso e chame os militares para dar uma forcinha, não seria uma solução; ao contrário, criaria muito mais problemas do que já temos. O próprio candidato e seu vice general sabem disso. E, antes que alguém me aponte um dedo rígido, lembro que o mesmo aconteceria se eleito um candidato como Boulos, ou aquela mulher do PSTU, que defendem invasões de prédios e fazendas, estatização de bancos, calote na dívida pública e outras sandices do gênero. 

Excluindo, portanto, essas aberrações e confiando que encontraremos soluções democráticas, permitam-se sugerir um método racional – até onde sou capaz – de escolher o melhor presidente ou, para ser mais exato, o menos pior que temos para hoje. Eleitores têm essa estranha mania de procurar o “candidato perfeito”, utopia que pode até ser bem-vinda em discussões de botequim e alguns debates na TV, mas que não passa disso – uma utopia.

Então, sugiro esquecer por alguns instantes as figuras dos candidatos: se são ou não simpáticos, educados, falam bem, demonstram boa cultura, passam sinceridade. Tudo isso pode estar sendo manipulado pelos marqueteiros e maquiadores. Pensem no que os presidenciáveis já fizeram como homens públicos e quem são as pessoas que os acompanham. E tentem imaginar como seria um Brasil comandado por eles a partir de 2019:

Bolsonaro – Difícil pensar nele como alguém que aceita críticas e consegue discutir civilizadamente qualquer assunto. Como irá se relacionar com os futuros deputados e senadores? Como agirá quando surgirem as crises? Fará como Trump, demitindo assessores quase todo dia? Tentará impor normas em temas como aborto, porte de armas, feminicídio e homofobia? Mandará fuzilar opositores? Tentará influir nas decisões da Justiça, que tanto critica? Seus eleitores querem isso?

Ciro – Há quem o considere um “bolsonaro à esquerda”, e talvez seja exagero. Será capaz de não levar para o Planalto seu velho hábito de ofender todo mundo de quem discorda? Promete acabar com as privatizações (bem ao contrário de Bolsonaro e Alckmin), aumentar impostos sobre os ricos, incluindo os bancos, mas isso quase sempre leva a alta de juros e fuga de dólares. Ou seja, crise. Se o Congresso não permitir, pensa levar esses e outros temas a plebiscito. Como reagirão os investidores internacionais? Vale a pena pensar.

Marina – Sua capacidade de dialogar com diferentes é reconhecida, e desejável num presidente. Mas frequentemente isso se confunde com indecisão, falta de firmeza, o que é péssimo em qualquer líder. Sem alianças políticas (como Bolsonaro), o que fará para conciliar as enormes pressões vindas do Congresso, dos empresários, dos sindicatos, funcionários públicos e tantos outros lobbies? Vai formar um governo só de técnicos, figuras da “sociedade civil”? Convenhamos, suas seguidas declarações de que irá propor “debates” sobre isso e aquilo não ajudam em nada os eleitores em dúvida.

Alckmin – A experiência como governador do estado mais importante é sem dúvida um belo ativo. Mas, como explicar que não consegue liderar as pesquisas nem em São Paulo? Tem provavelmente o programa de governo mais redondo, só que dá para confiar nos que o cercam? Como montar uma equipe de ministros com aliados desse nível? Ou cometerá o suprassumo da traição e os deixará de fora depois de eleito? Como é bom de conversa, talvez seja o mais indicado para pacificar o país. Resta saber se é isso que os eleitores querem.

Haddad – Já poderia estar liderando, ou empatado com Bolsonaro, não fosse a teimosia de seu chefe supremo. Vamos combinar que não é fácil carregar nas costas todo o peso de Dilma e ainda ter que beijar a mão de um ególatra (o maior deles) todo dia. Ninguém merece. Mas, também, ninguém o obrigou a aceitar nada. Dos candidatos com chance, é o que coloca mais dúvidas na cabeça do eleitor: repetirá a política econômica de Dilma, como disse em várias entrevistas, ou tentará alçar vôo solo? É culto, ponderado, meio almofadinha, parece até um tucano… Provavelmente dará indulto a Lula no primeiro dia de governo. A reação será forte. E, pensando bem, se fizer isso pode ser pior: o “chefe” vai exigir obediência.

Se você chegou até este ponto do texto e não pensou em se atirar pela janela, parabéns. É, dá trabalho essa coisa de querer analisar candidatos e pensar bem para não jogar fora o voto. Mas, lembre do velhinho inglês: ainda não inventaram nada melhor.

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