Vejo amigos dizerem e escreverem que estão com medo do resultado da eleição presidencial. Medo, aliás, tem sido um componente essencial nesta campanha eleitoral, o que combina com teorias de marqueteiros (sim, ainda há quem acredite neles), para quem o voto é um ato essencialmente emocional. Se é um sentimento compreensível na parcela menos informada do eleitorado, difícil aceitar que formadores de opinião caiam nessa armadilha.

Talvez seja um subproduto da falta de educação reinante, a mesma que coloca o Brasil entre os campeões mundiais de fake news, venda de produtos piratas e formação contínua de analfabetos funcionais. Especialistas convidados para programas de TV e colunas de jornais fazem pose para afirmar verdades absolutas, muitos deles cometendo erros crassos de português, o que por si só já é péssimo indicador. E os próprios jornalistas (com raras exceções), se mostram desnorteados – como se viu nos debates do primeiro turno – quando têm de encarar os candidatos ao vivo.

Sim, nossa democracia é jovem (acaba de fazer 30 anos) e ainda estamos aprendendo a usá-la e preservá-la. Admite-se, por exemplo, que quem nunca viveu sob regime autoritário possa pensar: “Será que é tão ruim assim”? Da mesma forma, quem nunca experimentou uma inflação de 1.000% ao ano, como tivemos nos anos 80 (final da ditadura militar e início da Nova República), pode achar que “um pouquinho de inflação não faz mal” – frase de um ex-assessor de Dilma Roussef. 

Bem diferente é o terrorismo eleitoral que mais uma vez estamos assistindo em 2018. Vale lembrar que na primeira eleição para presidente pós-ditadura (1989), o presidente da Fiesp declarou que, se o PT vencesse, “mais de 800 mil empresários” iriam embora do país. E que, em 2014, a campanha petista produziu vídeos insinuando que, se Marina Silva ganhasse, a comida iria sumir da mesa dos brasileiros.

Pirotecnias do marketing político, claro, agora exacerbadas a limites inéditos. As campanhas de Bolsonaro e de Haddad dedicam-se a espalhar que o pior dos mundos nos espera caso o adversário seja eleito em 28 de outubro. Bolsonaro não hesitaria em convocar os militares e reimplantar a ditadura da qual sente saudades. Haddad/Lula transformariam o Brasil numa “nova Venezuela”. Com o capitão, aumentarão os crimes contra mulheres, negros e gays, sob a conivência do governo; numa nova gestão petista, aumentariam as invasões de propriedades e o desrespeito às famílias.

Cenários de terror, que os candidatos e seus militantes vociferam por todos os meios. No entanto, quem alimenta esses medos, ou se deixa levar por eles, esquece (ou esconde) que o futuro presidente não terá plenos poderes. Arrisco até dizer que será o mandatário mais patrulhado da história recente. Por motivos óbvios, não poderá governar ao estilo Temer, o manjado é-dando-que-se-recebe, e encontrará sérios obstáculos se quiser pedalar no estilo Dilma. Não contará com a simpatia da mídia, nem do Judiciário ou do Ministério Público (vejam esta notícia). Terá que buscar a transparência, sob pena de se desmoralizar antes de completar seu primeiro ano no cargo.
Seja Haddad ou Bolsonaro, o próximo inquilino do Palácio do Planalto precisará dar respostas rápidas a seus eleitores – além, é claro, de enfrentar uma oposição que não dará sossego (ainda bem). Muitos brasileiros podem, sim, ter votado com medo. Mas isso não significa que aceitarão calados o que vier de Brasilia. 

Portanto, menos medo. Sem esquecer que o preço da liberdade é a eterna vigilância.

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