O Brasil é um dos países que mais investem em educação. No entanto, as avaliações de nossos estudantes continuam entre as piores do planeta (este artigo fornece detalhes a respeito). E, para realimentar esse fenômeno perverso, o país se mantém distante, bem distante, da chamada “fronteira tecnológica”, conceito desenvolvido pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne 36 dos países com os maiores PIBs do mundo.

A entidade analisa os países por vários critérios de desenvolvimento econômico, e um deles é a taxa média de investimento em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento), sigla que corresponde ao inglês R&D (Research & Development). As nações integrantes da OCDE respondem por cerca de 80% dos investimentos mundiais em P&D. Pode parecer que o Brasil sai bem nessa foto, mas é ilusão: entre 37 segmentos da economia, somente cinco atingem a taxa média de “fronteira tecnológica”. 

 

 

Os dados foram relatados ao jornal Valor Econômico pelo pesquisador Paulo Morceiro, da USP, que analisou números do IBGE e de outros órgãos públicos (vejam o quadro). Uma de suas constatações: a maior parte dos  investimentos em P&D no Brasil é bancada por universidades públicas, empresas estatais como a Embrapa e institutos de pesquisa como a Fiocruz. Nos dois setores que mais investem (farmacêutico e aeronáutico), o Estado cobre 60% da conta; nos demais países da OCDE, 75% do dinheiro vem de empresas privadas.

Morceiro, que publicou seu estudo em detalhes neste link, destaca que, no segmento de eletrônicos, os membros da OCDE investem 24% de sua produção em P&D; no Brasil, o número é 10%. Mesmo na área de software, em que os programadores brasileiros são respeitados, os dados são desanimadores: enquanto na OCDE são aplicados 29% do PIB em P&D, aqui ficamos em pífios 4,5%!!!

“Esse é o segmento em que o Brasil deveria estar caminhando mais”, analisa Morceiro, em entrevista ao Valor. “Ali está o núcleo da transformação tecnológica do mundo e da quarta revolução industrial”. E, comentando as causas dessa performance tosca, o especialista não tem como fugir das distorções tipicamente brasileiras: “Na Zona Franca de Manaus, o país dá subsídio para montar peças que vêm de fora. A gente não desenvolve tecnologia”, critica ele, lembrando que a própria lei que criou a ZF contém a exigência de investimento em P&D, em contrapartida aos benefícios tributários.

Esse tema, o presente e o futuro de Manaus, merece análise mais detalhada, que faremos aqui em breve. Para analisar a política (ou falta de) em educação e tecnologia, bastam os números. Que, como se dizia antigamente, não mentem jamais.

1 thought on “Bem longe da fronteira tecnológica

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