Privacidade Hackeada: se você ainda não viu, corra pro Netflix. Não costumo falar aqui de filmes, mas este merece – até porque tem tudo a ver com a tecnologia que nos cerca (às vezes nos cerca literalmente). Anunciado na categoria “documentário”, é na verdade bem mais. Daqueles filmes feitos com câmera na mão e a paixão de quem se envolve até o pescoço numa história. Não por acaso, é a sensação que se sente também na poltrona, querendo saber até onde a trama irá levar, ao ver embaralhadas as linhas que separam ficção e realidade, que é, afinal, o que se espera de um bom filme.

Para situar: o roteiro se baseia na história da empresa britânica Cambridge Analytica (CA), especialista em análise de dados, que evoluiu para uma consultoria de marketing digital. Cresceu exponencialmente quando adotou o marketing político, e essa foi também a sua ruína. Após a vitória de Trump em 2016, surgiram denúncias de que a CA foi contratada pela campanha dele para manipular dados sobre a candidata Hillary Clinton.

Tudo foi confirmado e a empresa acabou sendo declarada insolvente pela Justiça britânica. Levou consigo boa parte da reputação do Facebook, já que a trama envolveu o roubo de dados de 50 milhões de usuários da rede. A CA também atuou em outro caso de repercussão mundial: manipulou dados de usuários ingleses durante a campanha do Brexit, também em 2016.

O filme, porém, não se limita a relatar a história. Segue as pistas de David Carrol, professor de media design numa faculdade de Nova York, que teve seus dados roubados e – em vez de fazer como quase todo mundo, que deixa pra lá… – decidiu lutar para recuperá-los; na verdade, queria saber quais dados tinham sido surrupiados pela CA e entender como essa engrenagem funcionava. Em 2017, Carrol requisitou seus dados de volta e a CA recusou fornecê-los. Aí, ele partiu para a vingança. Este vídeo do YouTube traz o depoimento de Carroll.

A investigação realizada pelo professor (visto na foto acima) é acompanhada pelas câmeras quase como sombra, incluindo a reconstituição de seus encontros com ex-funcionários da CA, que lhe revelaram como tudo acontecia. Figura chave na história é Brittany Kaiser, co-criadora dos softwares que permitiram a manipulação. Outra peça fundamental é a repórter Carole Cadwalladr, do jornal inglês The Guardian, que publicou as primeiras denúncias e foi até o fim na investigação (pelo trabalho, Carole ganhou até o Pulitzer, prêmio mais importante da imprensa mundial).

O filme mistura drama, suspense, ação e crítica política como há muito não se via. Não importa se você é de direita, esquerda, centro ou nenhuma das anteriores: assista porque você também está sendo afetado por esquemas como o da CA, embora não perceba. E, como na máxima dos policiais ao prender bandidos, tudo que você disser ou compartilhar nas redes sociais, poderá ser usado contra você. 

Aqui, um trailer de Privacidade Hackeada (no original, The Great Hack). E, aqui, o link para a melhor crítica que li em português sobre o filme. Cuide-se.

1 thought on “Hackers e suas tramas mais do que diabólicas

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