Que impacto terá a crise atual sobre a parte mais numerosa da economia brasileira, algo estimado em 5 milhões de pequenas e médias empresas? Não é difícil prever que será um desafio para esses empreendedores sobreviver ao longo dos próximos meses. A meu ver, há grandes chances de que, quando a tormenta passar, não existirá mais o mercado como conhecemos hoje. Será uma nova economia, um novo país. Um novo mundo também.

Não cabem aqui exercícios de futurologia, até porque precisamos todos cuidar do presente – viver um dia de cada vez, como se diz a um doente em tratamento. A esse respeito, é ilustrativa uma entrevista concedida à Folha de São Paulo – aquele jornal comunista – pelo presidente da rede Magazine Luíza, Frederico Trajano. Sua empresa foi das primeiras a aderir à quarentena, antes ainda que isso se tornasse obrigatório, na certeza de que a prioridade zero era a saúde de seus funcionários e clientes. Fechou todas as suas 1.100 lojas, que se espalham pelo país. E pretende mantê-las fechadas mesmo que alguma autoridade ordene o contrário. “Nossa posição hoje é aguardar até garantir que protocolos de segurança e saúde de trabalhadores e clientes estejam aderentes e estejamos confortáveis com eles”, diz Trajano.

 

Evidentemente, essa decisão radical só pôde ser tomada porque a Magalu, como é conhecida, montou uma mega estrutura de e-commerce, responsável por metade de seu faturamento. Fechar seus pontos de venda físicos foi uma medida menos dolorosa do que está sendo para milhares de pequenos comerciantes que jamais puderam (ou quiseram) ter lojas virtuais. Estes dependem agora 100% do governo, já que os bancos… bem, os bancos lhes estão virando as costas, como fazem sempre que o cliente precisa de dinheiro.

Mas o motivo de meu comentário aqui é o audacioso plano da Magalu de criar no Brasil um tipo diferente de market place, mais abrangente do que o inventado por Jeff Bezos na Amazon e que vem ganhando imitadores mundo afora. Segundo Trajano, a ideia é “incluir digitalmente” a maior parte da população, sejam pessoas físicas – para aprenderem a comprar online – sejam pequenos e médios varejistas, que precisam aprender a vender no meio digital.

Coincidência ou não, o projeto está sendo lançado em plena crise da COVID-19, quando milhões de pessoas precisam justamente disso: saber vender quando poucos querem comprar. “Nossa plataforma permite a varejistas físicos, pequenos e médios, venderem produtos mesmo com lojas fechadas”, diz Trajano, que promete subsidiar a parceria nesta fase inicial.

Não vou me estender nos detalhes (acessem o link da entrevista), até porque não há garantias de que irá funcionar exatamente como descrito na entrevista. Mas pode ser uma grande oportunidade. A Magalu tem hoje cerca de 20 milhões de clientes virtuais e sabe tratá-los muito bem, tanto que teve crescimento vigoroso nos últimos anos, principalmente após 2014, quando foi a primeira rede varejista a investir em coisas como big data, nuvem e IoT (detalhes aqui).

Devem saber do que estão falando.

2 thoughts on “A epidemia e as pequenas empresas

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