Darwin, Descartes, Newton, Galileo, Einstein e tantos outros gênios nos ensinaram que a ciência existe para explicar a natureza, enquanto a filosofia é o ramo que estuda o homem e sua mente. Não fossem os cientistas e ainda estaríamos vivendo, talvez, como na Idade Média, quando a expectativa de vida na Europa era de 35 anos! Trabalhando há quase 40 anos com tecnologia, filha direta da ciência, sinto prazer de estudar a importância desses achados. Ao mesmo tempo, vem um sentimento de revolta quando alguém deturpa a ideia de transmitir conhecimento, que é a base da evolução da ciência.

Desculpem pelo desabafo, mas me refiro a um caso denunciado no fim de semana em reportagem da Agência Publica, que saiu também no UOL e em outros sites: alunos de EAD da rede de faculdades Laureate, hoje uma das maiores do país com mais de 200 mil alunos, descobriram que suas provas de redação na plataforma digital não estavam sendo corrigidas por professores, mas sim por um software. Descobriram, não foram avisados. A denúncia foi confirmada por cinco professores. “Não podemos informá-los e devemos responder às demandas como se fossemos nós, professores, os corretores”, disse um deles. 

Os repórteres foram investigar e encontraram um documento interno da Laureate com a orientação sobre o uso do software LTI de correção automática de textos: “Atenção: esta informação não deve ser compartilhada com os estudantes”! O software se baseia em palavras-chave, o que é no mínimo limitado considerando que a empresa chama isso de “inteligência artificial”. A correção é automática, feita em tempo real, mas um dos professores acrescentou que o resultado nunca é transmitido na hora, para dar aos alunos a impressão de que é um professor quem está fazendo o trabalho.

Como já comentamos aqui várias vezes, IA (ou “AI”, do nome em inglês, como muito gostam de usar) é uma revolução do século 21 e tem grande potencial no setor de ensino. Não sei se outras escolas fazem o mesmo uso, mas as explicações dadas pela Laureate – que tem sob controle marcas de prestígio como FMU, UNIFACS e Anhembi Morumbi – foram todas evasivas. Pior: o MEC, que deveria fiscalizar essas práticas, emitiu nota dizendo que “não funciona como instância recursal em matéria acadêmica”.

Ou seja, se quiser, a escola pode continuar usando robô em lugar de professor. E nada irá lhe acontecer.

1 thought on “Robô no lugar do professor

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