A história foi publicada, quase que numa ironia, pelo jornal The Washington Post, que pertence a Jeff Bezos, fundador e dono da Amazon. E saiu traduzida no site do Estadão (vejam aqui). É irônico porque mostra a que ponto podem chegar as relações entre a gigante da internet e seus parceiros, especialmente quando estes são pequenos e indefesos. E prova que, no mínimo, Bezos é um publisher diferente dos demais.

Trata-se da história de Barak Govani, dono de uma loja de roupas em Los Angeles que, no início do ano, desesperado com a queda nas vendas, entregou à Amazon todo o seu estoque (algo em torno de US$ 1,5 milhão). Sua ideia era que a empresa espalharia os produtos por seus vários centros de distribuição no país e os colocaria à venda em sua loja de parceiros – marketplace da Amazon.com. Afinal, esse é um modelo de negócios que tem ajudado muitos comerciantes, especialmente neste ano de pandemia.

Só que não. Funcionários da Amazon suspeitaram que os produtos de Govani eram falsificados e, seguindo normas internas, destruíram tudo!!! E, para sua desgraça, Govani não foi reembolsado. Seguiu-se uma disputa raivosa entre advogados e a Amazon, enquanto o pobre homem, 41 anos, se declarava não apenas falido mas sem ter nem onde morar. Govani diz que a empresa não atendia suas ligações nem respondia emails, limitando-se a informá-lo que os produtos haviam sido destruídos – coisa que ele nega veementemente, tendo inclusive apresentado notas fiscais originais.

O caso está na Justiça, e é até possível que se chegue a um acordo financeiro, o que é comum nos EUA. Além do mais, não seria US$ 1,5 milhão que abalaria as finanças de Bezos. O interessante, porém, é que o mesmo Washington Post denuncia existirem centenas de casos semelhantes, revelando o descaso com que são tratados muitos pequenos empresários que acreditam no sonho do marketplace. 

A reportagem, rica em detalhes, lembra O Processo, o livro de Franz Kafka em que um homem é preso sem saber por quê, uma fábula sobre a crueldade do Estado. Vale a leitura. Não se trata do Estado americano, claro, mas de uma gigante do mundo privado, que hoje é mais poderosa do que muitos governos. 

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