Tenho o maior respeito pela profissão de tradutor e/ou intérprete. Minha amiga Denise Bobadilha, uma das bambas na área, atualmente trabalhando na CNN (é dela uma das vozes que traduzem as reportagens americanas do canal), já chegou a passar horas ao microfone e ao fone de ouvido sem perder o rebolado – algo que muitos jornalistas de TV não conseguem nem quando estão lendo o teleprompter.

Também tenho amigos tradutores de livros, função que só não é mais nobre que a do autor original. Em trabalhos meticulosos que às vezes consomem anos, eles honram a tradição de nomes como Millôr Fernandes (que traduzia de oito idiomas), Boris Schnaiderman (famoso pelos autores russos que verteu/adaptou ao português), Paulo Mendes Campos (dos dificílimos James Joyce, Oscar Wilde e T.S.Elliot) e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, que viajaram pelos poetas Goethe, Dante, Homero, Maiakóvski, Shakespeare e tantos outros.

Ler todos esses, inclusive em português, faz bem à alma de quem vive sendo atropelado pelos atuais tradutores digitais e corretores ortográficos. Confesso que uma das minhas grandes inabilidades é escrever ao celular, não só devido à tela miúda como ao estresse de ter de corrigir o corretor!

Idem com o inacreditável Google Translator, que me irritou particularmente dias atrás quando, passeando por um grupo de jazz no Facebook, descobri que Thelonius Monk, o genial pianista e compositor, em português é o “Monge Thelonius”. E que o baterista Milford Graves, recentemente falecido, chama-se na verdade “Milford Covas”. E que, suprema heresia, Billie Holiday foi convertida em “Feriado Billie”.

Por isso é que, ainda que sujeito aos erros de todos nós, continuo preferindo os tradutores de carne e osso (e cérebro) e os corretores analógicos (nós mesmos).

Nota de rodapé: agora mesmo, pesquisando imagens no Google para ilustrar este post, ao digitar “tradutores” me aparecem “dubladores” – outra profissão nobre, que deve render um novo post em breve. Será que o prof. Google acha que ambos são a mesma coisa?

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