A edição de maio da revista HOME THEATER & CASA DIGITAL traz uma entrevista exclusiva com Raymundo Barros, diretor de Tecnologia e Estratégia do Grupo Globo e agora também presidente do Fórum Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD). O assunto principal, claro, é a chegada da TV 3.0, nome genérico do novo padrão de TV digital, prevista para 2024 ou 2025. Mas a conversa abordou alguns desdobramentos do processo de implantação da TV 3.0 – a íntegra da entrevista pode ser lida aqui.

Uma das tarefas de Raymundo à frente do Fórum é atrair para esse jogo as plataformas de streaming, que como se sabe vêm tirando audiência da TV tradicional, tanto aberta quanto fechada. Na implantação da HDTV, há cerca de 20 anos, a distribuição de conteúdos pelas redes de banda larga ainda engatinhava. As emissoras mandavam no jogo e, como lembra Raymundo, não cuidaram de criar um modelo de negócios que tornasse sustentável a HDTV.

O resultado foram altíssimos investimentos que tiveram retorno abaixo do esperado. Com a chegada das plataformas, na década passada, as emissoras se viram numa encruzilhada: corriam o risco de ser engolidas por gigantes como Google, Amazon, Netflix etc. “Imagine se nós não tivéssemos lançado a TV Digital: teríamos em 2023 um sinal analógico, em formato 4×3 e resolução SD (Standard Definition)… o mundo digital seria um meteoro que destruiria o ecossistema da radiodifusão”.

Tudo tende a ser diferente agora, pois a TV 3.0 significa a união entre esses dois mundos: emissoras e plataformas, televisão e internet. Mesmo com seu público gigantesco, o YouTube, maior serviço de vídeo do planeta, não chega aos pés da TV aberta quando se trata de atingir o grosso da população brasileira. Segundo Raymundo, são mais de 100 milhões de pessoas que continuam fiéis à TV linear e preferem ver seu conteúdos numa tela de TV e não num celular.

Como acontece hoje no streaming,

para assistir TV o usuário

precisará estar logado

Do ponto de vista técnico, a fusão entre TV e internet é relativamente tranquila. Com os algoritmos e os métodos de compressão/descompressão de sinal disponíveis hoje, é possível transmitir conteúdos em 2K (HD) e 4K – no futuro também 8K – com áudio imersivo e alta confiabilidade, inclusive ao vivo como já está acontecendo em alguns jogos do campeonato brasileiro (vejam aqui). Na TV 3.0, o telespectador nem irá perceber de onde vem o programa que estiver assistindo. Claro, muitos precisarão trocar seus receptores, e isso será feito no período de alguns anos, como aconteceu na chegada do HD.

A grande diferença será na experiência de acessar os conteúdos pela TV, algo parecido com o que fazemos hoje nas plataformas. Cada emissora irá criar “pacotes” de aplicativos, alguns gratuitos, outros pagos, como acontece hoje no streaming. E o usuário precisará estar logado para receber o sinal, o que a meu ver traz pelo menos três desdobramentos:

*Personalização dos conteúdos – Os algoritmos das emissoras e plataformas aprenderão com o uso contínuo, para fazer recomendações ao telespectador de acordo com seu perfil, a região onde mora etc.

*Publicidade endereçada – Cada emissora ou plataforma poderá criar formatos de anúncio adequados a cada público, algo que é muito valorizado pelos anunciantes.

*Uso dos dados – As informações sobre cada usuário serão, cada vez mais, objeto de desejo para as empresas, exacerbando uma polêmica que já existe hoje com a chamada privacidade de dados. Talvez sejam necessárias novas legislações para dar conta do uso desses dados confidenciais.

E estamos vendo apenas a ponta do iceberg. Será o fim da TV como a conhecemos, e o começo de uma outra, que ninguém sabe aonde poderá chegar.

4 thoughts on “TV e streaming: como será o casamento

  1. Esse último parágrafo me lembrou STAR TREK…, descobrindo novas tecnologias…., novos mundos…, onde nenhum homem jamais esteve!

  2. Prezados, deveriam já, estarem pensando em como as TVs atuais receberiam o novo formato 3.0,. Por atualizações ou aparelho que pode ser acoplado. Pois investir em TVs, já basta a fraude propagandeada com as TVs 4k e 8k que não tem nenhum canal permanente em nenhuma emissora aberta ou fechada.

  3. Carlos, leia a entrevista até o final. Esse assunto é tratado lá. Abs

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