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Comprando (e vendendo) seguidores

 

 

 

 

 

 

 

 

Li a notícia na semana passada: “Jovens entre 18 e 35 anos, vindos da informalidade, são maioria no mercado de compra e venda de seguidores que funciona às claras na internet. A falsa promessa de renda fácil cria um mercado irregular que infla perfis, paga décimos de centavo por clique e cria um estado constante de ansiedade em trabalhadores”.

Os repórteres Laura Intrieri e Vitor Rosasco, da Folha de São Paulo, ouviram especialistas e encontraram alguns desses jovens para saber, na prática, “que negócio é esse”? O resultado é de arrepiar. E dá bem a medida de como já foi longe a indústria das fake news – ou faketudo. Conheço – até mesmo dentro da família – pessoas que ganham dinheiro com pequenos trabalhos online, e não vejo problema nisso.

A questão é que, como explica o psicólogo Matheus Braz, que pesquisa o trabalho em meios digitais, para ganhar quantias minimamente significativas essas pessoas essas pessoas acabam trabalhando sem descanso, até mesmo nas horas de lazer. “Uma mãe fazia tarefas pela madrugada, enquanto amamentava seu bebê”, conta ele.

A reportagem – que pode ser lida aqui – dá muito mais detalhes, destrinchando o que no jargão digital ficou conhecido como “fazendas de cliques” (do inglês click farms). São sites criados especificamente para atender donos de perfis no Instagram e principalmente TikTok, geralmente artistas de quinta categoria, pequenos empresários ou vendedores disso ou daquilo, além dos hoje onipresentes “influenciadores”.

Essa gente precisa inflar seus perfis para enganar os patrocinadores – é disso que se trata: uma enganação. Meninos e meninas (há também alguns marmanjos) que estão desempregados ou sem perspectiva de vida acabam sendo atraídos para o vexatório papel de “clicadores”, como a moça da foto que pesquei no Google: a tarefa é vascular a rede com dezenas de celulares em busca dos perfis selecionados e enchê-los de cliques, curtidas, emojis e tudo o mais que esse mercado utiliza para falsear o sucesso dos “clientes”.

Um dos repórteres conta que chegou a trabalhar numa fazenda dessas, criando uma conta no Instagram e cadastrando-a para seguir perfis determinados. Pagamento: R$ 0,06 (isso mesmo: 6 centavos) após meia hora de trabalho. Para agilizar as coisas, os “escravos digitais” aprenderam a usar bots, que são programas para automatizar os cliques. Assim, você consegue clicar em contas, sites, perfis etc. sem nem mesmo ter que entrar lá – o bot faz isso por você.

Já existe um mercado paralelo de compra e venda de perfis, com números falsos e painéis SMM (Social Media Marketing) que, segundo os repórteres, funcionam como vitrines online de pacotes de engajamento. Encontraram até, numa das fazendas, a conta de uma vereadora paulistana que diz que nunca contratou esse tipo de serviço. Vai saber…

O que me intriga é pensar que, se alguém se dispõe a trabalhar dessa forma, não fará questão de questionar as atividades do cliente. Quem sabe não seja um pedófilo, contrabandista, psicopata, traficante ou coisa pior, disfarçado de político, cantor, comediante ou até “ex-BBB”, profissão da moda atualmente?

Se isso não é trabalho escravo, não sei mais o que pode ser. Bem, o quê fazer? Se você, como eu, abomina essas práticas, é bom ficar atento aos seus grupos de WhatsApp e aos sites e perfis que costuma acessar. Qualquer clique pode ser uma arma!

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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