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TV já não atrai crianças e adolescentes

Houve um tempo, ali pelos anos 60/70, em que se criticava a televisão por supostamente expor crianças e adolescentes a violência, com a exibição de filmes e seriados policiais e de guerra, muitos deles campeões de audiência. Quando o cinema decidiu apelar para super heróis do gênero Rambo, Exterminador do Futuro e os baseados em artes marciais (Van Damme, Chuck Norris etc.), a gritaria aumentou.

Estudiosos acreditavam que daquilo surgiria uma geração de psicopatas atacando as pessoas nas ruas. Bem, acertaram em parte: a violência diuturna de hoje faz pensar que os bandidos da época – digo, os de verdade – não passavam de trombadinhas. Lembrei disso ao ver o estudo divulgado pelo colega Fernando Lauterjung no site Tela Viva (aqui, o original): entre 4.807 entrevistados brasileiros durante o último semestre, na faixa de 3 a 18 anos, a maioria revelou que não assiste mais a televisão tradicional.

Suas preferências agora limitam-se ao VoD (video-on-demand) – cujo maior símbolo é o YouTube – segundo 54% deles, enquanto apenas 32% ocupam seu tempo com conteúdos offline. Cerca de 60% têm nos videogames sua principal fonte de entretenimento, hábito que começa já na fase de pré-alfabetização, especialmente entre os de alto nível sócioeconômico.

GERANDO ESQUIZOFRÊNICOS

Bem, tendo já três netos e conhecendo pessoas que dão smartphones e até tablets de presente a seus filhos pequenos, essa pesquisa não me espanta. São dados preocupantes, ainda mais se forem conectados a alguns fenômenos contemporâneos: queda de rendimento dos estudantes; mau comportamento na escola, incluindo casos de agressão de alunos a professores; aumento do bullying, levando a crises de depressão e até suicídio (aqui um exemplo recente); alcoolismo em adolescentes; adesão a discursos de ódio; vulnerabilidade diante de “influenciadores” e por aí vai.

A culpa certamente não é das crianças. Já contei aqui de um pai que vi esbravejar com o filho de 5 anos só porque o fez distrair-se de seu videogame (seu, do pai), quando o menino queria simplesmente mostrar-lhe um brinquedo (este, físico)! São sintomas de males que vão, aos poucos, tomando conta da sociedade e, se nada é feito, acabam mesmo gerando adolescentes – que mais tarde tornam-se adultos – deprimidos, anti-sociais, esquizofrênicos e até assassinos.

Não acho que assistir mais televisão tradicional vá eliminar, nem mesmo amenizar, esses problemas. Critico a atitude de pais, cuidadores e educadores que, em vez de estimular nas crianças as atividades em grupo, as leituras, o contato com a natureza e as brincadeiras do mundo físico, entregam o destino delas aos gadgets, ao YouTube e, pior ainda, às mídias sociais. E viram as costas para não ter que enfrentar as consequências desse ato insano.

Pensando bem, quase na categoria de crime hediondo.

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Parabéns à Revista Home Theater & Casa Digital pela publicação acima. Esse é um tema muito importante que os pais, como responsáveis, devem dar atenção e cuidados aos filhos.

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