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Um Nobel para quem criou a I.A.

 

 

 

 

 

 

 

 

O título acima é propositalmente exagerado – podem chamar de “fake news”. Na verdade, o inglês Geoffrey Hinton, 76 anos, cientista da computação premiado nesta 3a feira com o Nobel de Física, não criou a Inteligência Artificial. Sua façanha foi liderar uma equipe que, em 2012, desenvolveu uma rede de transmissão de dados que simula a comunicação entre os neurônios no cérebro humano – rede essa que ficou conhecida como “neural”.

A partir dessa descoberta, várias empresas e cientistas passaram a construir softwares de rede e a desenvolver algoritmos apoiados em técnicas de aprendizado de máquina (machine learning). Junto com Hinton (foto), que hoje trabalha na Universidade de Toronto (Canadá), a Academia Sueca do Nobel premiou também o americano John Hopfield, de Stanford, que contribuiu inventando um método revolucionário de armazenamento de dados também similar às sinapses cerebrais (aqui, um resumo da história).

Curioso é que, em maio do ano passado, Hinton pediu demissão de seu emprego na Alphabet, dona do Google, ao tomar conhecimento dos poderes do ChatGPT, lançado no final de 2022 pela OpenAI. Na época, cientistas e empresários de tecnologia chegaram a assinar um manifesto pedindo a “suspensão” temporária da ferramenta até que se criasse uma regulamentação oficial. Vejam esta entrevista de Hinton.

O próprio Sam Altman, CEO da OpenAI, advertia para os perigos contidos nessa nova modalidade de I.A., denominada LLM (“grandes modelos de linguagem”, em português). Neste post, e também neste, analisamos então o tema. Pois Hinton, confessando-se assustado, deu entrevista ao New York Times explicando por que decidira aderir à campanha para conter o avanço da tecnologia que ele mesmo ajudou a criar.

“Alarmista” e “ridículo”

Falando hoje a jornalistas sobre o Nobel que ganhou, o cientista reforçou que se arrepende da invenção, embora ressaltando que, se não o fizesse, alguém faria… Hinton faz parte da corrente de cientistas chamada genericamente de doomerism, referência à palavra inglesa doom, que pode significar “ruína”, “destruição” etc. “Doomerista” é alguém alarmista, que exagera nas previsões catastróficas, incluindo aí o fim do mundo e da própria humanidade.

A vitória no prêmio mais importante da ciência mundial não o fez mudar de ideia sobre os riscos contidos na evolução sem controle da I.A. “Mudei de ideia após ver o sucesso do ChatGPT e suas enormes possibilidades”, contou ele à revista Wired. “Achava que essa ferramenta não seria capaz de chegar perto da inteligência humana, mas descobri que estava errado. Ela está muito perto disso. Como iremos sobreviver”?

Há especialistas que consideram essa postura ridícula. Mas não custa lembrar que até anos atrás também eram ridicularizados os que advertiam para o aquecimento global e suas consequências, hoje vistas e sentidas por todo o mundo. Não se deve duvidar de um Prêmio Nobel.

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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