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YouTube já quer ser maior que a TV

 

A grande polêmica da semana, no segmento de mídia, foi o YouTube anunciando que, com a popularização das TVs conectadas, já há mais brasileiros acima de 18 anos assistindo a plataforma do que a TV aberta! Se você leu e acreditou, caiu em mais uma arapuca – fake news é o nome – típica das redes sociais.

De maneira precipitada, ou talvez maliciosa, executivos da empresa reuniram jornalistas na 4a feira para apresentar dados que seriam de um instituto de pesquisas (Kantar Ibope), colocando a audiência do YT em 75 milhões de pessoas, enquanto todas as emissoras abertas, somadas, teriam “apenas” 73 milhões. Passando por cima do fato de que os conceitos de “audiência” em televisão e internet são diferentes, assim como as formas de medição, informaram que foram ouvidas 24 mil pessoas, mas sem dizer que foram respostas “declaratórias”. Vejam aqui.

No jargão dos especialistas, isso indica coisas como esta: “assisti futebol pelo YouTube na semana passada”. Ou: “passei várias horas vendo vídeos no fim de semana”. Medições de TV, ao contrário, são feitas através de aparelhos que indicam qual canal a pessoa está assistindo em cada horário.

Disputa entre Globo e YouTube

Já na 5a feira, havia um carrossel de contestações na mídia, coordenadas entre as emissoras e o próprio Kantar, que refutou os dados divulgados. E o YT teve que se retratar. Na verdade, ainda falta muito para a maior plataforma de vídeos do mundo superar a TV aberta, tanto no Brasil quanto na maioria dos outros países, e isso por um motivo simples: a TV linear – aberta ou paga – representa 74,3% do tempo que os brasileiros passam diante de suas telas; as plataformas, sendo YT a maior, respondem por 25,7% (dados do mesmo Kantar).

Por motivos óbvios, a Globo foi a emissora que mais se queixou da confusão. No início do ano, sua direção definiu como meta conquistar pelo menos uma parte da audiência (e das verbas publicitárias) que as mídias online, YT incluído, roubaram da TV aberta nos últimos anos. A plataforma Globoplay é seu grande trunfo, e o vínculo direto com dezenas de milhões de brasileiros através de sua liderança na TV aberta, seu maior ativo.

Agora os números do Kantar Ibope, que são a referência para todo o mercado: em 2023, a TV aberta ficou com 64,5% do tempo dos brasileiros, com a Globo liderando com 35,4%. Isso quer dizer que a Globo continua prendendo a atenção de um público 38% maior que o de todas as plataformas online somadas. Na comparação com YT, e considerando não apenas a tela de TV, mas todos os dispositivos de acesso, a Globo leva vantagem de 120% (confiram).

O fenômeno Cazé TV

Nunca é demais lembrar que esses números pode mudar, e talvez já estejam mesmo mudando em 2024. O sucesso da Cazé TV na Olimpíada de Paris, por exemplo, foi um fato apontado por todos os analistas de mercado. O canal, que mistura esporte e humor com grande estardalhaço, divulgou ter conseguido cerca de 500 mil espectadores simultâneos durante a transmissão da cerimônia de abertura dos Jogos; já a Globo, com seu estilo mais sóbrio e vários repórteres em Paris, conquistou 36,4 milhões de telespectadores – somando TV aberta, TV paga (SporTV) e Globoplay.

Não existem nem condições físicas, hoje, para um canal de internet – mesmo que seja o onipresente YouTube, pertencente à trilionária Alphabet (mesma dona do Google) – alcançar uma audiência de TV aberta tão maciça quanto a da Globo. O mesmo, aliás, acontece em outros países onde existem redes abertas fortes. Vejam mais detalhes neste link. Uma novela de sucesso atinge cerca de 70 milhões de aparelhos por dia. Nos BBBs da vida, a audiência chega perto de 100 milhões, considerando todas as mídias, se bem que já foi maior no passado.

Embora as TVs conectadas estivessem presentes em 59% dos lares em 2023 (eram 34% em 2018), nem todas essas famílias usam a TV para ver conteúdos online. A TV aberta ainda é um hábito arraigado, e para muitos a recepção via banda larga é apenas uma forma de garantir melhor qualidade de sinal em suas emissoras favoritas.

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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