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Trump, tarifas e tecnologias (2)

 

 

Como prometido no post de ontem, vamos começar a dissecar a questão das tarifas do governo Trump e seus impactos sobre a indústria de tecnologia.

Indústria que, como se sabe, tem seu alicerce na globalização, isto é, na integração entre os países. Não fosse isso, seria impensável a quantidade de produtos eletrônicos circulando ao redor do mundo, e a preços consideravelmente mais baixos do que, digamos, no final do século passado. Se você, hoje, desmontar seu celular e colocar as peças sobre uma mesa, verá um verdadeiro mapa-mundi.

Para entender o tamanho da encrenca em que Trump envolveu os EUA, basta pensar na essência do capitalismo, sistema econômico baseado na competição e nos choques entre oferta e demanda. Se posso comprar um produto a preço mais baixo, por que não devo fazê-lo? Se um país me oferece melhores condições para produzir, o que me impede de mudar minha empresa para lá? São decisões que cada consumidor e cada empresário toma quando e como quiser. E, se há um item que é sagrado na Constituição dos EUA, é que o Estado não tem o direito de interferir nisso.

Gigantes americanas optaram pela

cadeia de produção baseada na Ásia 

Com seu tarifaço, Trump contradiz séculos de história americana baseada na tal “livre concorrência” e no respeito às leis econômicas. Apenas para ficar nas marcas líderes (Apple, Dell, Microsoft, HP…), quase todas as indústrias surgidas nos EUA nos últimos 50 anos, que impulsionaram a revolução digital, decidiram migrar suas fábricas para a Ásia. Primeiro, para a China, famosa por sua mão-de-obra gigantesca e barata, e nos últimos anos para países como Vietnam, Índia, Filipinas e Indonésia, entre outros. Este vídeo mostra o que acontece com países que aumentam suas tarifas.

Mas não se trata apenas de “trabalho escravo”, como muitos alegam. É na Ásia, principalmente na China, que está a maioria dos fornecedores de componentes, sem os quais nenhum fabricante de computador, TV ou smartphone consegue se manter. Existem na região centenas de milhares desses fornecedores, produzindo desde telas e teclados até placas de memória, chips, alto-falantes e um enorme etc., a custos muito mais baixos que nos EUA ou na Europa. Vejam aqui como isso funciona.

 

 

 

Mesmo fabricantes americanas de chips (Intel, Texas, Nvidia, Qualcomm…) dependem de componentes vindos da Ásia para se manterem competitivas no mercado – especificamente sobre chips, falaremos num próximo post. Ou seja, a atual cadeia de suprimentos baseada na China é simplesmente vital para as grandes empresas de tecnologia dos EUA. Tentar interrompê-la, seja através de tarifas ou qualquer tipo de bloqueio, pode levar à morte delas. Este link traz mais detalhes.

Evidentemente, se pudesse, todo CEO americano preferiria ter suas fábricas no quintal de casa. Os EUA continuam sendo imbatíveis em inovação tecnológica, com as melhores universidades e centros de pesquisa do mundo, acumulando prêmios Nobel a cada ano, e seus trabalhadores estão entre os campeões de produtividade. Mas o sistema produtivo que deu ao país a hegemonia no século 20 foi desarticulado pelas próprias corporações, ao perceberem que era muito mais barato produzir na Ásia. Digo, na China.

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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