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Um ícone em crise

O Estadão desta 3a. feira publica que a Gradiente está pedindo mais um financiamento ao BNDES para ajudar a cobrir sua dívida, que seria de R$ 284 milhões. Parece que um fundo de pensões estatal iria assumir o controle da empresa, que segundo o texto simplesmente está sem vender nada há algum tempo (a fábrica de Manaus, onde trabalham 550 pessoas, está sem atividade desde agosto, e os funcionários em férias coletivas).
 
Para quem acompanha o mercado brasileiro de eletrônicos há quase 30 anos, é triste ler uma notícia como essa. A Gradiente se confunde com a História da indústria brasileira. Infelizmente, uma série de erros estratégicos ao longo de todos esses anos acabou levando à situação atual, e até ofuscando o fato de que a empresa foi pioneira em lançamentos como o CD, o receiver A/V e o próprio DVD. O fato de não possuir tecnologia própria certamente é um dos fatores responsáveis pela queda. Nos dias de hoje, ter que depender de terceiros para fornecimento de tecnologia é quase suicídio.
 
Voltaremos logo a este assunto, mas é importante lembrar também que, em seus mais de 40 anos de vida, a Gradiente acostumou-se a uma rotina de empréstimos governamentais que raramente acabam bem. Teve a benevolência de vários governos militares e, na era FHC, quando lhe faltou esse apoio, saiu em defesa de Lula e do PT. Foi premiada em 2003, com um empréstimo de R$ 100 milhões, que não evitou a crise atual.
 
Será que um novo empréstimo resolverá? Espero sinceramente que Eugenio Staub consiga reerguer sua empresa em bases sólidas, mas duvido que isso seja possível ancorando-se em dinheiro público.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Como funcionário da Gradiente de 1980 a 1992 e consultor de 1992 a 2006, venho acompanhando com muita tristeza a crise que se abateu sobre a empresa. Resta-me torcer para que seja encontrada uma solução para seus difíceis problemas e para garantir a continuidade de suas atividades.

  • Meu primeiro aparelho de som foi um Gradiente(quando digo aparelho de som é mesmo aparelho de som, não as tranqueiras de hoje em dia que se estragar algo não se consegue arrumar devido a falta de técnicos ou peças de reposição). Até hoje tenho um toca-discos que funciona. Parte do problema da Gradiente é por acompanhar a tendência mundial de utilizar peças "made in China", que ao meu ver não têm muita qualidade (antigamente ou vinha dos Estados Unidos, Japão ou produzidas na Z.Franca). Parte do problema é da consciência da população que não dá o devido valor às coisas achando que está fazendo um bom negócio comprando um aparelho de DVD que só falta falar e custa R$ 99,00. Não há como ser competitivo se a maioria da população só pensa no preço baixo, não se importando com a qualidade.
    Sou apenas um usuário comum mas que procuro qualidade naquilo que compro. Não vou na onda onde a maioria vai, por isso não tenho e nem pretendo ter MP3 ou coisas parecidas. Gosto de novidades que são melhores das existentes não piores.

  • Acredito que a atual situação da empresa também tem como pilar o mau trato com seus clientes que muitas vezes pelo SAC, ficaram aguardando informações que nunca foram dadas.
    Estas coisas fazem a marca cair em descrédito mesmo quando se faz coisas de boa qualidade, afinal hoje em dia a diferença está no trato com o cliente e a Gradiente já havia perdido o respeito pelos seus há muito tempo.
    Hoje paga caro, e talvez seja tarde para reabilitação já que amantes da marca, podem já estarem apaixonados por outra que tenha boa qualidade/tecnologia e respeito pelos seus consumidores.
    No que se referir as inovações como o MP3, elas serão muito bem vindas, é só não serem banalmente esquecidas quando uma outra chegar, deixando milhares sem suporte pelo que um dia foi vendido a peso de ouro com a promessa de vida útil sem prazo de aspiração.

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Orlando Barrozo

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