Crime (muito bem) organizado

Os paulistanos acompanharam esta semana os conflitos ocorridos durante a venda de ingressos para o jogo deste domingo, entre Palmeiras e Ponte Preta, que decide o campeonato estadual. Novas cenas de vandalismo e selvageria, infelizmente comuns no cotidiano do futebol brasileiro.

Bem, mas o que isso tem a ver com o assunto deste blog? Muito. Ouvi entrevista do diretor da empresa Ingresso Fácil, concessionária exclusiva da venda de ingressos no futebol paulista, dizendo que recebeu “pedido” da Federação Paulista de Futebol para que não fossem vendidos ingressos pela internet. Isso, segundo a FPF, prejudicaria as pessoas que enfrentam filas até na madrugada, sob frio e chuva, para conseguir seu tão sonhado ingresso!!!

Você não leu errado. A FPF defende, na maior cara-de-pau, que a venda de ingressos pela web não beneficia, e sim prejudica, o torcedor. Quer dizer, se você quer adquirir seu ingresso com segurança e conforto, sem sair de casa, pagando com cartão de crédito e com a devida antecedência para poder se programar, não pode. Agora, se você quiser ficar horas numa fila, enfrentando vândalos disfarçados de torcedores e correndo até mesmo risco de vida, isso pode.

Fica claro que a FPF não está nem um pouco preocupada com o torcedor, certo? A venda de ingressos pela internet – como já acontece com cinemas, peças de teatro, shows etc. – simplesmente torna mais difíceis as fraudes e manipulações, algo em que os dirigentes de futebol no Brasil se tornaram mestres. É muito mais complicado – embora não impossível – falsificar um ingresso emitido eletronicamente. E, além do mais, se essa ferramenta da modernidade que é a web fosse usada, como fazer para sustentar os milhares de cambistas que ganham a vida justamente falsificando ingressos e extorquindo torcedores? Isso provavelmente é tudo que os dirigentes de futebol não querem.