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Novos órfãos da música

Li com tristeza a notícia de que a Nuvem Nove, reduto dos fãs da música no bairro do Itaim, em São Paulo, fechou suas portas. Por motivo de trabalho, não pude ir lá dar um abraço de despedida no José Carlos Damiani, o Zé, que segurou a onda ali com paciência e dedicação raros nos últimos 17 anos.

Para quem não conhece, a Nuvem Nove era uma das melhores lojas de discos da capital paulista. Arrisco dizer até que formou toda uma geração de consumidores de música de qualidade, não importa o gênero. Freqüentá-la era praticamente uma aula de música, dada a quantidade de discos raros em seu acervo e o conhecimento musical dos atendentes.

Melancolicamente, a Nuvem Nove sucumbiu à fúria dos downloads e viu sua clientela ir diminuindo até o ponto do insustentável. Em matéria do Estadão, Zé Damiani lembra com saudades das dicas que dava aos clientes sobre este ou aquele disco raro, ou um artista sumido que de repente alguém estava procurando. “Hoje, qualquer moleque entra na internet e sabe mais do que eu”, diz ele.

Pois é, entra na internet, baixa as músicas que quiser (quase sempre sem pagar nada) e perde completamente as referências. Não há mais o velho conceito do álbum, aquele disco que se comprava para ouvir as músicas na seqüência imaginada pelo artista, e que tinha começo, meio e fim. Sem falar nas capas, obras de arte que admirávamos enquanto íamos ouvindo faixa a faixa.

Pensando bem, nos moldes em que vive hoje a indústria da música, seria impossível sair um disco como “Sgt. Pepper´s”, dos Beatles; “Tommy”, do The Who; ou qualquer um do Led Zeppelin – para ficar só em três exemplos. Não apenas pela diferença de qualidade dos artistas, mas porque tudo é descartável e para consumo imediato. É quase certo que 99% das músicas mais baixadas hoje esteja completamente esquecida daqui, digamos, um ou dois anos.

Como aconteceu com a Tower Records, nos EUA, e mais um milhão de outras lojas que fecharam pelo mundo afora, a Nuvem Nove não tem sentido para a maioria dos jovens usuários de música. É duro não ser saudosista diante dessa constatação.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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