Categories: Uncategorized

Conversor, pra que te quero?

Enquanto o governo dança pra lá e pra cá, ao sabor de todo tipo de pressão na questão da TV Digital, o mercado vai tratando de se adaptar à realidade. Semanas atrás, tivemos o “lançamento” do conversor da Proview, aquele de R$ 200 (ou melhor, R$ 199), com a presença inclusive do ministro das Comunicações. Este, por sinal, disse tudo – menos que o aparelho não é compatível com sinal de alta definição. Coloquei as aspas porque ainda estou esperando um deles para testar; quando isso acontecer, prometo descrever o resultado aqui.

Agora, leio no Estadão sobre o lançamento da Neo Security, uma empresa que fabrica players portáteis, webcams e acessórios de informática. Trata-se de um “conversor de interatividade”, ou seja, um aparelho que permite captar o sinal digital das emissoras e também os serviços interativos que elas venham a fornecer. Custa R$ 600 na loja Central Santa Ifigência, em São Paulo, diz o jornal. Segundo o dono da loja, que garante já ter vendido dezenas de peças, o conversor é compatível somente com a parte do Ginga que está liberada de direitos autorais. Leia o texto para ver que não estou mentindo.

Essas dezenas de infelizes que compraram o produto, se é que a informação é verdadeira, devem estar se mordendo de arrependimento. Vejamos. O Ginga, software de interatividade definido pelo governo como padrão para o SBDTV, ainda enfrenta dificuldades com os royalties a ser pagos aos seus desenvolvedores, como o pessoal da Universidade de Paraíba, que trabalhou anos no projeto. Enquanto isso não for resolvido, nenhum fabricante sério vai querer lançar o produto, correndo risco de um processo judicial. Da mesma forma, as emissoras precisam dessa definição para poderem produzir e gerar conteúdos interativos. A Globo, por exemplo, já decidiu que está fora disso – é um sistema complexo e difícil de se pagar. Só para reforçar que a Globo está certa, na Inglaterra a interatividade já foi praticamente descartada pelas emissoras, exatamente por sua inviabilidade comercial.

Como é, então, que uma empresa lança um produto nessas condições? O que você vai fazer, na prática, com o tal conversor se não há conteúdo interativo disponível, nem há previsão a respeito? Que a Sta. Ifigênia é terra de ninguém, já se sabia. Agora, será que existem tantos idiotas capazes de entrar nessa roubada?

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

Share
Published by
Orlando Barrozo

Recent Posts

Inteligência Artificial não tem mais volta

Pouco se falou, na CES 2025, em qualidade de imagem. Claro, todo fabricante diz que…

2 semanas ago

TV 3D, pelo menos em games

                          Tida como…

2 semanas ago

TV na CES. Para ver e comprar na hora

Para quem visita a CES (minha primeira foi em 1987, ainda em Chicago), há sempre…

2 semanas ago

Meta joga tudo no ventilador

    Uma pausa na cobertura da CES para comentar a estapafúrdia decisão da Meta,…

2 semanas ago

2025 começa com tudo…

Desejando a todos um excelente Ano Novo, começamos 2025 em plena CES, com novidades de…

2 semanas ago

Dolby Atmos em TVs e soundbars

                  A edição de dezembro da revista…

1 mês ago