Enquanto o governo dança pra lá e pra cá, ao sabor de todo tipo de pressão na questão da TV Digital, o mercado vai tratando de se adaptar à realidade. Semanas atrás, tivemos o “lançamento” do conversor da Proview, aquele de R$ 200 (ou melhor, R$ 199), com a presença inclusive do ministro das Comunicações. Este, por sinal, disse tudo – menos que o aparelho não é compatível com sinal de alta definição. Coloquei as aspas porque ainda estou esperando um deles para testar; quando isso acontecer, prometo descrever o resultado aqui.

Agora, leio no Estadão sobre o lançamento da Neo Security, uma empresa que fabrica players portáteis, webcams e acessórios de informática. Trata-se de um “conversor de interatividade”, ou seja, um aparelho que permite captar o sinal digital das emissoras e também os serviços interativos que elas venham a fornecer. Custa R$ 600 na loja Central Santa Ifigência, em São Paulo, diz o jornal. Segundo o dono da loja, que garante já ter vendido dezenas de peças, o conversor é compatível somente com a parte do Ginga que está liberada de direitos autorais. Leia o texto para ver que não estou mentindo.

Essas dezenas de infelizes que compraram o produto, se é que a informação é verdadeira, devem estar se mordendo de arrependimento. Vejamos. O Ginga, software de interatividade definido pelo governo como padrão para o SBDTV, ainda enfrenta dificuldades com os royalties a ser pagos aos seus desenvolvedores, como o pessoal da Universidade de Paraíba, que trabalhou anos no projeto. Enquanto isso não for resolvido, nenhum fabricante sério vai querer lançar o produto, correndo risco de um processo judicial. Da mesma forma, as emissoras precisam dessa definição para poderem produzir e gerar conteúdos interativos. A Globo, por exemplo, já decidiu que está fora disso – é um sistema complexo e difícil de se pagar. Só para reforçar que a Globo está certa, na Inglaterra a interatividade já foi praticamente descartada pelas emissoras, exatamente por sua inviabilidade comercial.

Como é, então, que uma empresa lança um produto nessas condições? O que você vai fazer, na prática, com o tal conversor se não há conteúdo interativo disponível, nem há previsão a respeito? Que a Sta. Ifigênia é terra de ninguém, já se sabia. Agora, será que existem tantos idiotas capazes de entrar nessa roubada?

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