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Passeio na Santa Efigenia

Ontem à tarde, fomos conhecer o famoso bairro de Akihabara, zona norte de Tóquio. Nosso grupo foi levado de ônibus, o que significa dizer que precisamos atravessar boa parte da cidade, em meio a um trânsito tão infernal quanto o de São Paulo (não diria caótico, porque aqui as coisas são bem mais organizadas, mas é carro e gente que não acaba mais). Lá chegando, cada um foi literalmente “solto às feras”: podíamos andar à vontade (?), só tínhamos a obrigação de voltar ao ônibus em duas horas.

Parecia pouco. Só duas horas para conhecer o mais comentado centro de compras de aparelhos eletrônicos do planeta? Será que vai dar tempo de comprar alguma coisa? perguntou um jornalista francês. O conselho que recebemos de nossa guia japonesa: vejam os preços primeiro e depois nos contem. E como andar sem se perder, naquele amaranhado de placas e luminosos que para um estrangeiro não faz o menor sentido?

Vale a pena lembrar que para a maioria da população japonesa aparelhos eletrônicos sofisticados ainda são um sonho. Não é todo mundo que tem TV de plasma, embora na proporção seja bem mais do que no Brasil. Nossa guia tinha razão: os preços em Akihabara são impraticáveis. Felizmente, eu não estava ali para torrar meu cartão de crédito, mas vi pelo menos uns dez turistas brasileiros fazendo exatamente isso. O bairro chama mesmo atenção. Não é muito grande, talvez uns 5 quilômetros quadrados, sendo que o melhor está nas pequenas travessas da rua principal, a Chuo Street. Eu disse “melhor”? Bem, vamos fazer as contas:

Notebook Vaio Core 2Duo com 250Gb, 185.000 iênes;

Câmera Panasonic Lumix 8Mp, zoom 18x, 92.000 iênes;

iPhone 3G, 78.000 iênes;

E por aí vai. Se você for pesquisar nas lojas brasileiras, deve encontrar preços semelhantes. A pior parte é que o iêne é uma moeda supervalorizada. Os gênios economistas talvez expliquem por que um dólar vale 105 iênes (câmbio de hoje, 6a. feira) e somente 2 reais. Pior: como na Santa Efigenia, em São Paulo, Akihabara não oferece a menor garantia de nada. Algumas lojas fazem propaganda de que vendem, por exemplo, produtos Sony “overseas”, isto é, compatíveis com os padrões ocidentais de voltagem, teclado etc. Mas vai saber…

Ainda assim, achei os preços, na média, inferiores aos de Londres e Berlim, por exemplo. A grande vantagem de Akihabara, para quem gosta de eletrônica, é justamente seu maior perigo: perder-se em meio a tantas ofertas e acabar pensando assim: “Vou levar, sei lá quando vou voltar aqui”. Pura armadilha. Interesante que quase todo mundo cai nela, inclusive alguns de meus colegas de grupo, que são jornalistas especializados.

Felizmente, escapei.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Orlando, preço por preço não existe nada mais barato do que nos EUA. Preço bom se encontra onde há grande mercado consumidor, isto é, nos EUA, onde a taxação ao consumidor também é baixa. Como você sabe, tendo-se um endereço de entrega lá, compra-se pela internet com grande desconto em relação às lojas físicas que eles chamam de "brick and mortar".

  • Seu comentário e perfeito, o mundo globalizou, tudo em todo lugar. Os preços alinharam-se, se vc pode comprar aqui por que comprar lá, vai carregar peso atoa, sem garantia principalmente no transporte. Acontece que custo de um vendedor no chamado primeiro mundo e 10 a 15 x mais caro, fora o aluguel do imovel do estabelecimento e custo operacional da empresa. Se for comprar fora tem que ser produtos que vc não encontra aqui como lançamentos e que vc não pode esperar 6 meses, até que cheguem no nosso mercado.

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Orlando Barrozo

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