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Se o Brasil fosse a Índia…

Sem comentários, transcrevo abaixo a coluna de Nelson Motta no Estadão desta sexta-feira. Só lembrando: não sou adepto de religiões orientais, nem fã de novela, nem muito menos assisto à atual das 8 (ou das 9). Mas o texto é daqueles que eu gostaria de ter escrito. Parabéns, Nelson.

Bombaim é aqui

 

Nelson Motta

 

Além de grande divertimento com as histórias de Gloria Perez, os cenários deslumbrantes e a cultura indiana, toda vez que assisto a Caminho das Índias penso nos políticos brasileiros. Eu sempre penso neles.

Ah, como eles adorariam que aqui houvesse um sistema de castas com 50 milhões de dalits, de intocáveis – os excluídos dos excluídos. Para lutar por seus direitos e ganhar seus votos. Quantas ONGs, com dinheiro público, os dalits teriam no Brasil? 

A bolsa-dalit seria imediatamente instituída, seriam criadas cotas para dalits em universidades, serviços públicos e até em empresas privadas. Para os dalits indianos, o Brasil seria o paraíso. E não haveria novela de Gloria Perez.

Uma parte dos nossos políticos seria da casta dos xátrias, que nasceram dos braços de Brahma, como os militares e os governantes; outra dos vaixás, que saíram das pernas do criador, como os comerciantes e agricultores; ou dos sudras, que saíram dos pés do deus como operários e camponeses; raros seriam brâmanes, como sacerdotes, filósofos e professores, que saíram da boca de Brahma. Os companheiros dalits seriam apenas a poeira sob os pés de Lula, epa!, de Brahma. Não da cerveja, do deus. Aqui, dalits unidos jamais seriam vencidos.

A organização familiar indiana, com filhos e netos morando com o patriarca, que tem autoridade absoluta, deve dar água na boca de nossos políticos. Principalmente porque o nepotismo na Índia é a regra, família trabalha com a família: caixa único.

Outro objeto de desejo deve ser a tradição de casamentos arranjados e negociados pelas famílias, em bens e em dinheiro vivo, que não chega a ser novidade na política brasileira, mas poderia ser usada de forma mais prática, em alianças eleitorais legais, à prova de TRE. Casamento por amor é coisa de novela.

Mas os políticos que seguem Caminho das Índias devem tomar cuidado. Alguns podem se impressionar com as crenças hinduístas na reencarnação, no carma de cada um, e serem acometidos por pesadelos em que acordam como um chacal, uma hiena ou uma ratazana, zanzando pelo plenário, de paletó e gravata. Hare baba !

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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