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Quem dá mais por um filme?

Comentei aqui outro dia sobre os filmes brasileiros de maior bilheteria, e eis que o cinema nacional nos surpreende mais uma vez. Vem aí provavelmente o maior sucesso de todos os tempos – e, pasmem!, sem dinheiro público.

A grande sacada (mais uma) é do produtor Luis Carlos Barreto, que aprendeu como poucos a tirar dinheiro do contribuinte para financiar seus filmes. Isso, desde os tempos da extinta Embrafilme. Barreto teve a extraordinária idéia de produzir uma cinebiografia de… adivinharam: o presidente Lula. Nem precisou pedir dinheiro ao próprio personagem, o que neste país seria algo mais do que natural. Não. Desta vez, dezenas de empresas fazem fila para financiar o projeto, e algumas nem têm vergonha de admiti-lo.

Vejam a lista publicada neste domingo pelo Estadão: Camargo Correia, entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões; Odebrecht, R$ 350 mil; grupo Eike Batista, R$ 1 milhão; Ambev, Volkswagen, Nestlé, OAS e Oi não divulgaram com quanto estão comparecendo. Segundo os produtores, há várias empresas negociando a compra de cotas de patrocínio do filme, na casa dos R$ 2 milhões cada cota. O interese é tanto que elas nem estão preocupadas com leis de incentivo, pelas quais teriam até direito a receber de volta o valor investido, via deduções no imposto de renda.

Mas, que nobres motivações moveriam empresas a financiar um filme desses, sendo que a maioria delas nem tem a prática de investir em cinema? Simples: todas elas têm negócios com o governo. Segundo levantamento do jornal, só nos últimos dois anos os repasses somaram R$ 1 bilhão (e você, mais uma vez, não leu errado). A Oi, por exemplo, acaba de obter financiamento público para adquirir a Brasil Telecom, como a imprensa já cansou de detalhar. E, para dar sua ajudazinha no projeto da família Barreto, vai acionar a Oi Futuro, sua divisão encarregada de “responsabilidade social”. Ora, ora.

“Lula, o Filho do Brasil” (assim se chamará a “obra”) tem custo de produção orçado em R$ 12 milhões, mais R$ 4 milhões em distribuição. Deverá ser lançado em 2.010, ano de eleição presidencial, e você nem precisa perguntar por que escolheram essa data. Assim se faz cinema (e política) no Brasil.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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