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Empacotando o assinante

Reportagem da Folha de S.Paulo neste domingo faz um levantamento detalhado de uma das questões mais polêmicas do mercado brasileiro de TV por assinatura: os pacotes de canais que são, digamos, sugeridos aos clientes. Com o argumento de que o plano contratado originalmente “não existe mais”, diz o jornal, operadoras estão obrigando os assinantes a partirem para pacotes mais caros. Como este é um dos setores de maior concentração na economia brasileira (82% estão nas mãos de Net e Sky, segundo a consultoria especializada Teleco), os clientes vêem-se sem alternativa e acabam aceitando. O problema está sendo analisado com carinho pelos serviços de defesa do consumidor, que no entanto não apresentam uma saída para o usuário. Diz o Procon-SP que só este ano o setor de TV paga já foi responsável por nada menos do que 449 reclamações, mas na prática essas queixas raramente têm alguma conseqüência.

A reportagem é focada nos problemas dos assinantes exatamente das duas maiores operadoras, sem mencionar as demais. Há até o caso de um e-mail que teria sido enviado “por engano” pela Net a seus assinantes, comunicando uma troca de pacote que resultou em 8% a mais na conta mensal (a operadora diz que já esclareceu o fato junto aos clientes, mas alguns deles disseram ao jornal que não foram procurados).

Bem, já comentei aqui sobre essa questão dos pacotes, que mistura uma estratégia de marketing (a meu ver equivocada) das operadoras com um problema estrutural do mercado de TV paga. Embora Net e Sky tenham participação acionária do mesmo grupo econômico (a Globo), e esta seja também proprietária da maior programadora do País (a Globosat), a convivência entre as três empresas nem sempre é pacífica. Os contratos de venda de conteúdo em geral incluem cláusulas que exigem da operadora vender pacotes casados, incluindo canais que dificilmente alguém iria assinar se não fosse obrigado. Para poder oferecer programas de boa qualidade, as operadoras têm que aceitar outros de baixo (ou péssimo) nível. E o assinante, idem.

Enfim, um problema que só se resolveria se tivéssemos mais programadoras, mais operadoras e maior concorrência. Mas isso, pelo jeito, é utopia.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Caro Orlando, gostei de tua opinião sobre as TV-assinaturas e os comentários suscitados foram interessantes, mas parece que nos esqauecemos do principal: a legislação brasileira não só é caótica, mas foi feita para progeger os capitalistas e as ditas agencias controladoras estão na mão das controladas, portanto, é um caso clássico de raposa tomando conta do galinheiro...creio que só uma constituinte composta por cidadãos que NÃO SEJAM POLÍTICOS PROFISSIONAIS, isto é, excluindo todo os detentores de mandatos dos último dez (ou vinte anos ) com muito jornalistas (independentes), advogados sem vinculação com as estruturas dominantes ) e cidadãos sem compromissos políticos poderia mudar o estado atual, portanto,uma UTOPIA !! ! abRÇS, LUIZ DOS SANTOS

  • Pessoal, nao adianta nada, anatel, procon, MP ou outro qualquer órgão decidir isso ou aquilo. as operadoras nao estão nem aí. Viram o que aconteceu com as leis do call center. Continua tudo ighual e pioraram os serviços de atendimento ao consumidor. o que aconteceu com a desobediência? Nada. Tá nacara e a Anatael e os outros órgãos "suspeitam" que esta errado. enquanto suspeitam nos marchamosdireto, sem suspeição.

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