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A arte imita a política

Quando o cineasta americano Oliver Stone lançou, em 2008, um filme biográfico sobre George Bush, não faltou quem o acusasse de ter se vendido à direita americana – justamente ele, Stone, veterano do Vietnã que fez vários filmes tachados de anti-stablishment. O que dizer, então, de Luiz Carlos Barreto, o maior “coronel” do cinema brasileiro, em vias de lançar a biografia cinematográfica de Lula?

Li estarrecido, neste fim de semana, entrevista de Barreto à Folha de S.Paulo falando sobre a “obra”, prevista para estrear em janeiro de 2010 – que, coincidentemente, é ano de eleições. Só lembrando: Barreto é um dos mais bem-sucedidos produtores do cinema brasileiro, desde os anos 70, e deve grande parte de sua carreira às verbas da falecida Embrafilme e, mais recentemente, dos outros órgãos estatais de financiamento equivalentes. Suas boas relações com o poder vêm de longe – Getulio, JK, os militares, Tancredo, FHC e agora Lula. Está sempre em boa companhia. No entanto, garante que sua produtora está em dificuldades. Vejam só: “O objetivo primeiro desse filme é contar uma bela história, de exemplo. Isso é a boa ação. A ação mesmo é o seguinte: eu quero ganhar dinheiro. Quero tirar a minha empresa do vermelho. Em 45 anos de cinema, essa empresa é um botequim que está no vermelho. Eu fui procurar uma história e encontrei essa. Estou fazendo esse filme para ganhar dinheiro. Estou me lixando para a eleição, de dona Dilma ou de quem quer que seja”.

Portanto, Barreto não se vendeu – pelo menos, não desta vez. O filme sobre Lula terá lançamento em ano eleitoral, o personagem inclusive estará presente à festa de estréia, e Barreto articula um grande esquema de distribuição das cópias em DVD, junto com a CUT e a Força Sindical. Tudo indica que, com essa forcinha do governo, irá bater recordes históricos, tanto nas bilheterias dos cinemas quanto na venda de discos. “O filme não tem vínculo político. Estamos longe da máquina governamental”, explica. “As centrais sindicais não são máquinas do governo”.

É isso aí, cada biografado tem o biógrafo que merece.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

View Comments

  • Sobre a vida do Lula....ele nunca sabe de nada!
    Teria coisa melhor pra contar, mas.....mais uma vez não importa o meio... o fim justifica.
    E viva a incoerência ...

    Adelino

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Orlando Barrozo

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