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Exemplo para o mundo

Folheando o livro “Free (Grátis) – O Futuro dos Preços”, do excelente jornalista americano Chris Anderson (o mesmo de “A Cauda Longa”, hoje um clássico do gênero), encontrei uma história surpreendente que ele foi buscar em… São Paulo. Sim, em suas pesquisas para escrever o livro, Anderson passou por aqui e quis conhecer o trabalho dos camelôs que ganham a vida vendendo produtos piratas.

Bem, antes é preciso explicar que o livro trata da expansão mundial da pirataria em geral: de roupas, sapatos, relógios, discos, tudo enfim. Anderson levanta a polêmica tese de que a tendência é tudo ser de graça (daí o título do livro). Isso mesmo: no futuro, você não vai mais pagar por um produto; este lhe será oferecido gratuitamente, numa conta a ser bancada por patrocinadores, anunciantes e demais empresas que possam querer lhe conquistar para vender serviços. Qualquer dias desses comento melhor essa tese.

Mas a surpresa é que, em São Paulo, de tanto ir atrás de pirateiros, Anderson acabou encontrando os empresários do grupo Banda Calypso, que (se não me trai a ignorância na matéria) canta axé music. Ao dedicar um capítulo do livro ao Brasil – um dos campeões mundiais em pirataria – o jornalista cita o caso da banda como exemplo da nova ordem virtual dos negócios. Seus discos eram tão pirateados que eles simplesmente dispensaram sua gravadora e passaram a ser os próprios produtores, gravando em pequenos estúdios, com o mínimo de recursos, e controlando ao máximo os custos. Para fazer a divulgação, começaram a jogar as músicas na internet, permitindo downloads gratuitos.

A estratégia mostrou-se matadora: os internautas trataram de promover as músicas e tornaram-se divulgadores dos shows da banda, sem cobrar nada por isso. Shows que, em todo o País, atraem milhares de pessoas, o que tornou milionários os integrantes da banda e seus empresários. Como toque final de marketing, ainda lançaram a idéia de gravar em vídeo os próprios shows e vender cópias em DVD ali mesmo, na saída, para os fãs empolgados, que não hesitam em pagar 15 ou 20 reais pelo disco “fresquinho”.

Genial, não? Esse é, para mim, um exemplo acabado de marketing “de resultados”. Nada teria acontecido, porém, se não fosse a pirataria dos discos do grupo. Os piratas são seus maiores divulgadores.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Amigos, isso é apenas uma amostra do que esta por vir. Vejo neste forum uma elite que dispoe de recursos para comprar hardware e software de qualidade, todavia somos em numero muito pequeno frente ao mercado mundial que é fundamentalmente com poucos recursos financeiros. Cada um tem sua estrategia de mercado e um pouco de visão.

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