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O marketing da tragédia

Dizia um velho professor meu que, quando todo mundo está chorando, o negócio é vender lenço. Pois bem, em meio às trágicas notícias sobre o terremoto no Chile, assim como já havia acontecido no Haiti, algumas imagens e ações chamam atenção pelo inusitado – para o bem ou para o mal, revelam um pouco do espírito humano.

Fiquei chocado, por exemplo, ao ver as cenas de saque num supermercado semi-destruído, com as pessoas roubando descaradamente os alimentos, quando o correto (se é que se pode usar essa palavra num momento desses) seria tentar ajudar quem estava morrendo. Mais chocante ainda foi ver um homem que fugia carregando nas costas uma… geladeira. Isso mesmo: o sujeito mal podia andar com aquele peso todo nas costas, mas devia estar se sentindo feliz ao conseguir um objeto tão caro, ainda que roubado!

Também me chamaram atenção aqueles turistas chilenos presos no aeroporto do Rio de Janeiro, sem saber quando poderiam voltar ao seu país e tendo que dormir no chão (diziam estar sem dinheiro para pagar hotel). Na seqüência do telejornal, imagens do presidente Lula visitando a presidente do Chile a título de prestar solidariedade. Tentei me colocar no lugar da sra. Bachelet: que visita mais inoportuna! Para que serviria uma visita de presidente numa hora daquelas? Lula faria melhor, por exemplo, se arrumasse acomodações para os tais turistas que não podiam sair do aeroporto. Ajudaria assim o Chile muito mais!

E há também aqueles que sabem se aproveitar de momentos tão difíceis de uma forma, digamos, mais criativa. Foi o caso da Google, que já no sábado, dia da tragédia, lançou o site Person Finder para ajudar a encontrar pessoas desaparecidas no terremoto. Em poucas horas, estavam registrados mais de 50 mil acessos, segundo a imprensa. Qualquer ser humano que, usando uma ferramenta como essa, consiga achar um parente ou amigo desaparecido, irá se tornar usuário do Google. Difícil imaginar uma forma mais eficaz de fidelizar clientes.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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