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Coreia: lição de gerenciamento

Dizem que o Brasil poderia ser a Coréia, se tivesse feito suas lições de casa entre os anos 60 e 70. Ou poderia ter sido, agora não dá mais. Lembrei desse comentário ao ler outro dia trechos de um relatório mostrando o que seriam os quatro fundamentos da fantástica evolução desse pequeno país asiático nas últimas décadas. A análise, da Consultoria McKinsey, mostra que estamos mesmo a anos-luz deles. Vejam:

1. Investir em tecnologias em que o país pudesse atingir nível de Primeiro Mundo;

2. Manter sob controle as fontes de investimento, para direcioná-los aos setores que mais interessam ao país, evitando a mera especulação financeira;

3. Acelerar a cooperação com a China, vizinho e grande parceiro comercial (além de ser o maior mercado do mundo);

4. Aproximar-se da velha inimiga Coréia do Norte, oferecendo investimentos para torná-la também um bom mercado comprador.

Em vários pontos do relatório, é usada a expressão “investir em pesquisa e desenvolvimento” (R&D, em inglês), quase como uma obsessão. Nem preciso me estender muito. Todo mundo sabe onde está hoje a Coréia. Curiosamente, caiu em minhas mãos outro dia, por acaso, um link da revista Newsweek sobre o mesmo assunto, intitulado “Coréia do Sul sobrevive à recessão com tática de CEO”. Você provavelmente – como eu – não sabia que o presidente do país chama-se Lee Myung-bak; nem que trata-se de um executivo de carreira, ex-CEO da Hyundai, um dos maiores grupos industriais do mundo. Nos anos 80, quando dirigia a empresa, ele investiu agressivamente na conquista de novos mercados, apesar de ser desaconselhado diante da grave recessão que ameaçava o mundo. Quando assumiu a presidência do país, o sr. Lee teve exatamente a mesma atitude. E o que se vê agora é que a Coréia é uma das poucas nações ricas que não está sofrendo tanto com a crise de 2008.

“Esta crise pode pode ser nossa oportunidade de nos tornarmos um país de primeira classe”, disse ele a um grupo de empresários em janeiro de 2009, no auge do pessimismo mundial. Uma parte de seu plano foi aumentar o investimento do governo coreano em… isso mesmo: pesquisa e desenvolvimento (de 3,4% do PIB, o que já era bem alto, para 5%). Mais: reduzir a tributação sobre os investimentos das empresas em… R&D. Resultado: a Coréia foi o primeiro país desenvolvido a sair da crise, no final do ano. E caminha para ter em 2010 uma das taxas de crescimento mais altas do mundo.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • É isto Orlando, perdemos mesmo o bonde da história. Meu filho, engenheiro, passou 18 meses trabalhando no estaleiro da Samsung, um dos maiores do mundo, no sul da Coréia, na cidade de Koje, como inspetor de qualidade da DNV. O que ele viu lá não tem similar por aqui. Extrema responsabilidade no trabalho, competência dos operários e conhecimento técnico aprimorado. Parece que o país está todo motivado e mobilizado para ser um dos maiores polos de tecnologia do mundo. Não é para menos que a Samsung (maior fabricante de LCDs do mundo), LG, Hyundai são coreanas. O que mais você quer? Enquanto por aqui o governo quer impedir a venda da Oi, que está ruim das pernas e só não quebrou por ajuda financeira do governo, para a Portugal Telecom. Que interesses excusos estão por trás disto tudo? Afinal de contas a Oi é a maior financiadora da campanha política dos petralhas!!!

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