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O dilema da HP

Em meio à euforia que tomou conta do setor de tecnologia e da mídia especializada mundial com a notícia de que a Google Inc. comprou a divisão de celulares da Motorola, nesta quinta-feira o mercado foi abalado por outra surpresa: o conselho de acionistas da HP aprovou a decisão de sair do segmento de computadores! Isso mesmo: a segunda empresa mais tradicional do setor de informática (perde apenas para a IBM, e mesmo assim por uma questão de antiguidade) está abandonando o barco que a sustentou durante tantos anos.

E não apenas isso: Leo Apotheke, contratado há dois anos para comandar uma reestruturação na empresa, anunciou que está suspendendo o desenvolvimento do TouchPad, tablet apresentado meses atrás como concorrente do iPad, e também do sistema operacional WebOs, que a HP herdou ao adquirir o controle da Palm, no ano passado. Ou seja, dois passos atrás, que certamente irão custar caro ao grupo. A compra da Palm foi uma tentativa de entrar pra valer no segmento de tablets e smartphones, mas pelo visto a HP se arrependeu.

A discussão agora é sobre o que será feito dos dois ativos: o sistema operacional, que ainda tem seu valor de mercado (embora nem de longe ameace Windows, Android e iOS), e a divisão de PCs, que continua sendo uma das maiores do mundo. Já há rumores de que o WebOS será comprado pela chinesa HTC. Segundo Apotheke, o plano é, a médio prazo, deixar mesmo o setor de consumo e concentrar-se naquilo que proporcione margens de lucro mais altas, que é o mercado B2B, onde a HP atende a clientes gigantes, incluindo vários governos pelo mundo afora (mais detalhes aqui). Faz sentido.

Curioso é que a decisão da HP foi anunciada hoje, quase ao mesmo tempo em que saía o último levantamento da empresa especializada DisplaySearch sobre o mercado global de computadores portáteis. Pois é, no segundo trimestre do ano, a Apple ultrapassou a HP como principal fabricante do setor, totalizando 13,5 milhões de unidades vendidas, contra 9,7 milhões da concorrente. Detalhe: desse total, 10,7 milhões foram iPads.

Pensando bem, o pessoal da HP até que fez bem. Não há como competir com esse trator chamado Apple.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

View Comments

  • Cara, aí no post você fala que a HP sairá do mercado de computadores. Não seria apenas Tablets e Smartphones? Pelo menos em Notebooks ela ainda é forte.

    E outra coisa, o que seria B2B (desculpe a ignorância)?

    E só uma curiosidade: a FoxConn, aquela empresa que irá/iria fabricar os Ipads no Brasil é a mesma empresa que fabricou meu Notebook, que é da HP. Se os Ipads daqui esquentarem muito (típico da HP há anos), já sabe de onde vem o problema...

    • Olá Marcos, obrigado pela msg. Na verdade, a HP anunciou que pretende sair do mercado de consumo, incluindo todos os produtos portáteis. Se isso vai mesmo acontecer ou não, só o futuro dirá. É um segmento que hoje dá pouco lucro, porque as margens dos fabricantes são baixas, em comparação com o mercado corporativo (também chamado B2B - business-to-business), que envolve sistemas para grandes corporações e governos. É aí que eles ganham dinheiro. Quanto à Foxconn, sim, é a mesma empresa. Eles fornecem para vários fabricantes: Sony, Dell, HP, Apple...

  • Valeu pela resposta. Foi bom enquanto durou a HP. Tomara que continuem no mercado pelo menos com calculadoras. Na engenharia, eles são referência com calculadoras gráficas... todo mundo lá na faculdade conhece a HP 50G.

    Mas pelo ponto de vista da empresa, eles ficam em um grande dilema: se não entram no mercado de portáteis, ficam pra trás e acabam tendo prejuízo. Se entram, sofrem com a concorrência e têm um grande risco de terem perdas também. É muita concorrência num segmento só. E concorrer com Apple é complicado...

  • Pelo que lí por aí vão fazer um ˜spin-off" da divisão de PCs, ou seja, como fez a IBM anos atrás, a HP ˜computadores" deve ir para as mãos de outra empresa e a marca continua no mercado, sob licença. Afinal não seja joga fora o prestígio que a HP tem neste segmento. E pelo jeito continuam em impressoras. E vejo uma falha no anúncio: hoje mesmo vários amigos e antigos leitores me escreveram perguntando sobre o destino de seus notebooks HP, preju[izos, garantias, etc.

    O curioso, para mim, é terem comprado a Palm e desistido tão rápido do mercado móvel. Ok, com uma concorrente como a Apple, talvez tenham até sido precavidos a ponto de não terem mais prejuízos.

  • Olá Orlando. Quando soube que a HP estava pensando em sair do mercado de PCs, até que não fiquei muito surpreso, pois logo me lembrei da IBM, que se desfez da divisão de PCs- incluindo notebooks para a Lenovo. Com a acirrada concorrência de hoje (Apple, Lg, Samsung, Acer, Asus, Sony, etc) já era de se esperar. Além disso, a HP cresceu demais e perdeu o foco do negócio, querendo atender tanto o mercado de consumo como o corporativo. Talvez seja melhor ela voltar a fabricar apenas calculadoras e impressoras, como antigamente. :)

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Orlando Barrozo

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