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E agora, Terry?

Terry Gou, presidente da Foxconn, empresa de Taiwan que monta a maior parte dos aparelhos da Apple, esteve em Brasilia na semana passada para conversar com a presidente Dilma Roussef. Oficialmente, o motivo foi retomar as negociações para construir no Brasil uma unidade montadora de smartphones e tablets, além de uma fábrica de displays touch. A explicação do governo é que as conversas continuam, apesar de todos os indícios em contrário; o ministro Mercadante voltou a garantir que “até dezembro” a empresa começará a distribuir iPhones e iPads montados em Jundiaí (SP).

Foi mais uma jogada para a torcida, conseguindo até certa repercussão internacional, como queria o governo. Depois de anunciar o projeto em abril, Dilma e Mercadante se decepcionaram com a série de exigências apresentadas pela Foxconn, que incluíram até a construção de um aeroporto privado junto à fábrica, além de facilidades fiscais inéditas no país. Mais grave ainda foi a decepção com o fato de nenhum grupo industrial ou financeiro nacional ter se interessado em participar do projeto. O problema é que, quando se reuniu com Mercadante e a presidente Dilma Roussef em abril, na China, Terry Gou concordou em distribuir um comunicado confirmando os planos, apenas para ser simpático com os visitantes.

Na prática, Gou e os executivos da Foxconn ainda não viram vantagem em montar uma fábrica no Brasil; aliás, só viram desvantagens. Mas, com toda a expectativa criada pelo governo, há agora um clima estranho em torno do negócio. Se desistir, a Foxconn corre o risco de sofrer represálias do governo em outros projetos de seu interesse (a empresa fornece componentes para Sony, HP, Motorola e outros fabricantes que atuam aqui). O mote da conversa da semana passada foi: agora que criamos esse abacaxi, vamos descascá-lo juntos!!!

Não há como saber, neste momento, o que Gou irá decidir. Nem ele nem as autoridades brasileiras têm certeza de nada. Espertamente, o governo tenta criar uma disputa entre os estados que manifestaram interesse em receber a fábrica (além de São Paulo, estão nesse caso Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais, entre outros). Eventuais “incentivos” que os respectivos governadores possam oferecer quem sabe ajudem a convencer mr. Gou. Usa-se ainda o (falso) argumento da Copa do Mundo: “Eles devem ter em mente que a Copa é grande alavancadora da venda de equipamentos”, ensinou Mercadante, ao falar com jornalistas após o encontro.

Se você está se perguntando o que tem a ver uma coisa com outra, eu também estou. Vamos ver quais serão os próximos capítulos dessa novela, que cada vez mais se parece com uma grande farsa!

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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