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Quanto vale uma gravadora?

Antigamente, era comum incluir as grandes gravadoras de discos entre as principais empresas do mundo do entretenimento. Eram as chamadas cinco irmãs (EMI, Universal, BMG, Sony e Warner), referência às “sete irmãs” do petróleo. Com o diluvio dos downloads, aquilo que chamávamos “indústria fonográfica” virou pó. Ou quase. Sony e Warner continuam aí, meio como zumbis, e a alemã BMG deixou de existir em 2004, ao ser incorporada pela própria Sony. Pois as duas restantes acabam de se tornar uma só: nesta sexta-feira, a Universal Music – hoje pertencente ao conglomerado francês Vivendi – anunciou a compra da inglesa EMI por US$ 1,9 bilhão, valor insignificante perto do que essa marca já representou.

O acordo, avalizado pelo Citigroup, refere-se apenas à gravadora, e não à EMI Publishing, dona dos direitos sobre todas as gravações de seus artistas, incluindo uma certa banda de Liverpool. Mas, segundo The Wall Street Journal, a venda também da editora musical é iminente: a Sony deve anunciar nos próximos dias o negócio, avaliado em US$ 2,2 bilhões.

Pelo que li no Variety, jornal especializado em show business, houve uma briga de bastidores em torno da EMI, que detém nada menos do que 1,3 milhão de obras registradas. A parte mais valiosa está justamente nos clássicos, aqueles discos que vendem sempre e continuarão vendendo enquanto existir alguém de bom gosto com um CD player ou toca-discos de vinil em casa. Além dos Beatles, o catálogo da empresa inclui tudo dos selos Capitol, Blue Note, Virgin e EMI Classics (música erudita), verdadeiros tesouros musicais.

Embora a venda de discos tenha quase secado, as cinco irmãs, que detinham sob contrato todos os artistas importantes, souberam negociar os direitos para não ficarem totalmente com as mãos abanando. Vejam como está a situação hoje (os números são de 2010):

1 – Universal Music, com 30,8% do mercado mundial, pertence ao grupo Vivendi, que também é dono de empresas como Activision (games), Global Village Telecom (no Brasil GVT) e Canal+ (TV por assinatura); a Universal detém selos celebrados, como Motown, Decca, Verve e A&M.

2 – Sony Music, que consolidou-se como a segunda do mundo, com 28% de market-share, após a compra da BMG, em 2008, por US$ 1,5 bilhão. A BMG detinha selos de alto valor histórico, como RCA e Arista. Já a Sony mantém os direitos sobre Columbia, Epic e Sony Classics, entre dezenas de outros.

3 – Warner Music Group, terceira, com 20%, pertence ao grupo Access Industries, do multibilionário russo Len Blavatnik, que também tentou comprar a EMI, mas desistiu ao ver o tamanho do rombo (superior a US$ 2 bi). Blavatnik comprou a WMG em maio, pagando US$ 3,3 bi.

4 – EMI, quarta colocada com 10,2%, foi incorporada em fevereiro último pelo Citigroup após quase ir à falência. Seu proprietário anterior, o fundo britânico Terra Firma, fez aquele que muitos consideram o pior negócio de todos os tempos: pagou US$ 6,6 bilhões pela EMI em 2007, não conseguiu sustentá-la e teve que vender em 2011 por US$ 4,2 bilhões – não recebeu um centavo, pois esse era o valor que devia ao Citi, e quebrou.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Bah, Orlando, que saudades tenho das tardes da minha adolescência, quando passava horas a fio escutando bolachões de vinil nas lojas do centro da minha (pequena) cidade, sempre lotadas, aliás. Ouvíamos, discutíamos com amigos sobre as novidades, trocávamos ideias. Fazia-se novos amigos, havia o calor humano e a troca de informações. A música era "consumida" de outra forma. Era degustada, faixa por faixa, disco por disco, sem pressa, com atenção e prazer. Hoje isso já não faz mais sentido. Talvez nem seja bem compreendido pelas novas gerações. Guardo meus vinis com todo o carinho. Belos tempos, belos dias. Por isso, vejo com tristeza a derrocada das grandes gravadoras, pois equivale à derrocada da própria (boa) música. Hoje, prefere-se a quantidade à qualidade, em todos os sentidos. Por isso, odeio música digital em arquivos comprimidos, embora, confesso, às vezes recorro à comodidade, ainda que contrariado. Abraço.

    • É isso aí, Raul, também sou saudosista nesse sentido, embora hoje não dê pra abrir mão do iPod. Abs. Orlando

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Orlando Barrozo

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