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Ginga pra cá, Ginga pra lá

Há cerca de dois anos, começaram a ser lançados no Brasil os TVs com conversor digital embutido (o chamado set-top box). Não foram propriamente um sucesso, mas com certeza ajudaram a vender mais aparelhos. Com um TV desses e uma antena apropriada, o usuário pode sintonizar o sinal das emissoras digitais (SBTVD) e ter acesso a todos os serviços que, pelo cronograma previsto, seriam incorporados ao padrão de TV brasileiro. Entre esses serviços, um dos mais interessantes era a interatividade, ou a possibilidade de “conversar” com a emissora através de recursos interativos. Lembro até hoje de um discurso do ex-ministro Helio Costa anunciando o famoso Ginga, que o Brasil implantaria até mesmo antes dos países desenvolvidos!

Pois bem, já se passaram quatro anos do lançamento do SBTVD e, embora varios fabricantes tenham lançado TVs com interatividade, pouca gente sabe sequer que isso existe. Com exceção de Globo e SBT, mesmo assim em horarios bem restritos, nenhuma emissora investiu nisso. E têm elas um excelente motivo: é um investimento que não se paga. Para ser atrativa, a interatividade exige desenvolver software proprio, com visual agradavel. As emissoras só irão fazê-lo se tiverem quem pague a conta, ou seja, anunciantes. Estes, por seu lado, só investirão se acreditarem que o público aceitará a inovação e participará, aumentando (ou pelo menos qualificando) a audiência.

E, no entanto, o governo agora quer obrigar os fabricantes de TVs a adotarem, por decreto, a interatividade. Segundo o site Convergência Digital, será imposto um calendario para isso, obrigando que pelo menos 30% dos TVs produzidos no país este ano venham com set-top box; para 2013, seria exigido percentual de 60%; e para 2014, 90%. Hoje, o total gira em torno de 10%. Diz ainda o site que a decisão foi tomada após longas e infrutíferas negociações com a industria e devido ao “desespero” dos desenvolvedores de software, que até agora só tiveram prejuízos.

Vejam como é facil inverter as coisas. Quem hoje compra um TV com interatividade (Sony e Philips informam que todos os seus modelos possuem) não tem o que assistir. O problema, portanto, não está nos aparelhos, mas nas emissoras, que deveriam colocar esses conteúdos no ar. E o governo, seja por incompetência ou por não saber como pressionar as emissoras, vai em cima da industria.

Em tempo: segundo a Eletros, que representa a maioria dos fabricantes, um TV com conversor embutido custa, em média, R$ 180 a mais. Alguém perguntou se o consumidor quer pagar essa diferença?

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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