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Vida de cientista, no Brasil

“A renúncia a um investimento maciço de formação de um corpo de cientistas e de atuação em diferentes áreas – tecnologia de informação, microengenharia, biomedicina, nanotecnologia, engenharia biomédica… – é uma renúncia à soberania do País.” 

Assim começa uma entrevista do prof. Miguel Nicolelis ao Estadão, na semana passada. Para quem não conhece, Nicolelis é um dos maiores cientistas brasileiros, reconhecido no mundo inteiro, especialista em neurociências que nos últimos anos vêm se dedicando à robótica e, mais do que isso, às possíveis formas de interação entre o cérebro e as máquinas. É dele, entre outros, o projeto Campus do Cérebro, do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, patrocinado pelo casal Edmond e Lily Safra. Lá, Nicolelis e outros especialistas montaram um laboratório de excelência no estudo das chamadas doenças pré-natais, que acometem mulheres grávidas e provocam problemas nos fetos. É também de Nicolelis e sua equipe o projeto Walk Again, cujo objetivo é devolver os movimentos a pessoas tetraplégicas. Como se esses dois projetos já não fossem meritórios, eles montaram ainda uma escola-modelo, orientando crianças desde a primeira infância a tomar gosto pela ciência (vejam este vídeo).

Estudando e trabalhando durante muito tempo nos EUA e na Europa, Nicolelis identificou uma série de ações que poderiam ser desenvolvidas no Brasil para compensar, pelo menos em parte, o descaso dos governantes. Conseguiu apoio da família Safra, exemplo de como a elite política e econômica do país poderia contribuir, se quisesse. Pacientemente, prepara agora um plano de longo prazo sobre o ensino de ciências no Brasil, na esperança de ser ouvido pelo governo federal. “Nossa situação é dramática”, diz ele. “Se não acordarmos agora, não precisamos acordar mais. A janela de oportunidades está se fechando”.

Agora que meu filho entrou na Universidade para se tornar, quem sabe, um cientista no futuro, fico pensando no esforço desses homens e mulheres, e como este país seria outro se houvesse uma política educacional e científica. Como jornalista, tive a oportunidade (posso dizer: privilégio) de entrevistar cientistas como Mario Schenberg, José Goldemberg, Paulo Vanzolini e Crodowaldo Pavan. Todos sempre se queixaram da desatenção governamental. E aprendi a admirar outros, como Cesar Lattes, Milton Santos, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro e o recém-falecido Aziz Ab’Saber, que morreram com o mesmo tipo de queixa. Certamente há muitos outros como Nicolelis. Mas teria de haver centenas, milhares deles, para podermos falar em “soberania nacional”.

 


Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Oi, Orlando,
    muito pertinente o seu artigo. É um absurdo a forma como o Nicolelis é ignorado no Brasil.
    Mas não é só uma questão de formar gente qualificada em massa, mas também de dar as condições de trabalho e também remuneração compatível com a formação e a importância dessas pessoas para o país. Não adianta formar doutores para transformá-los em professores horistas de faculdades particulares que os enxergam apenas como moeda de troca com o MEC.
    Abç,
    Ana

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