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TV Digital governamental

Continua o impasse entre governo e indústria a respeito da interatividade. Já comentamos o assunto aqui algumas vezes, e a palavra “impasse” talvez nunca tenha sido tão apropriada. Só para refrescar a memória: o governo cismou (não há outra explicação) que todos os televisores devem ser equipados com o software do DTVi (antigo Ginga), para permitir aplicações interativas. E decidiu obrigar os fabricantes a isso. Na prática, não tem como fazê-lo, a não ser via pressões políticas. Politicamente, a indústria não se manifesta. Mas também não move uma palha para atender à exigência.

Duas semanas atrás, conversei com Frederico Nogueira, diretor da Rede Bandeirantes e portavoz do Fórum SBTVD, órgão que estabelece as normas para a TV Digital no país. Por representar as emissoras, Nogueira talvez não seja propriamente isento para opinar, mas afinal é ele quem fala pelo Fórum. Em tempo: este é formado por representantes de todos os setores envolvidos – emissoras, fabricantes, universidades, desenvolvedores de software etc. E Nogueira foi taxativo: “Tão cedo não teremos serviços interativos, porque a base instalada de televisores é muito pequena. Não posso mandar uma mensagem para 100 mil telespectadores, quando minha audiência é de 100 milhões”.

Nogueira ainda foi mais longe: as emissoras estão investindo pouco em interatividade, porque não existe um modelo de negócio adequado para esse tipo de serviço. “Interatividade não existe em país nenhum do mundo”, explicou. “Até agora, isso para as emissoras só representou despesa, nada de retorno. Aliás, a própria TV Digital não aumentou em um centavo o faturamento do setor”.

A tradução, para quem acompanha o mercado, é: tudo vai continuar como está. O governo, na verdade, está fazendo jogo de cena para acalmar o pessoal de software, que – este sim – investiu bastante em soluções de interatividade, na ilusão de que o ex-presidente Lula e o ex-ministro Helio Costa falavam sério quando lançaram a TV Digital, em 2007. Prometeram interatividade, multiprogramação e aparelhos baratos para todos, lembram-se?

Desde aquela época dizíamos que era apenas fumaça… Pois é.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Essa interatividade,que parece fadada ao esquecimento, me lembra a função "angle" dos DVDs ,que prometiam a possibilidade de se ver a mesma cena em vários angulos,numa tomada.Na prática nunca vi um DVD que disponibilizasse tal função.

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