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Olha os chineses aí…


Lembro bem que, nos primeiros anos em que cobri a CES, década de 1980, costumávamos brincar – digo, nós, jornalistas especializados – que na indústria eletrônica havia duas certezas: tudo que vinha do Japão era bom; e tudo que vinha de qualquer outro país asiático era ruim. Testar um produto made in Japan era quase um ritual: tomávamos cuidado até para encostar a mão. Já o que tinha outras procedências merecia desprezo.

Na época, ninguém podia imaginar que os fabricantes coreanos dariam o salto que vimos, impulsionados pela própria evolução do país que – nunca é demais lembrar – planejou tudo a partir de um espetacular investimento em educação de base, coisa que o Brasil não conseguiu fazer até hoje. Os produtos coreanos, naquela época, eram vistos mais ou menos como são hoje os chineses. Espere… são mesmo? Ou eram? Bem, a partir de agora, suponho que devemos dobrar a lingua ao comentar sobre eletrônicos made in China.

Há cerca de dez anos, os expositores chineses começaram a chegar à CES. Mais de uma vez, o preconceito nos impediu de percorrer o setor destinado a eles. Com o tempo, eles foram ganhando mais espaço, até ocuparem um pavilhão inteiro no Las Vegas Convention Center. No ano passado, esse pavilhão abrigou mais de 500 empresas! Este ano, pelo que relatam meus colegas Julio Cohen e Ricardo Marques, China e Taiwan ganharam novo status. Pelo menos quatro empresas desses dois países (Asus, Haier, Hisense e TCL) montaram estandes enormes. E vejam que curioso: a Hisense passou a ocupar o mesmo espaço que tantos anos (até 2012) pertenceu à todo-poderosa Microsoft, hoje fora da CES!

E o que as empresas chinesas estão mostrando no evento é para deixar coreanos e japoneses preocupados. Como se sabe, quase tudo em eletrônica hoje é produzido na China, seja diretamente ou através de acordos do tipo OEM (Original Equipment Manufacturer), SKD (Semi Knocked-Down) ou CKD (Completely Knocked-Down). Se marcas de prestígio (Apple, Motorola, HP e tantas outras, inclusive coreanas e japonesas) mandam fazer seus produtos lá, não é apenas por causa do custo; é sinal de que os chineses também sabem fazer.

A Haier, por exemplo, está demonstrando em Las Vegas um sistema em que o TV pode ser comandado apenas por movimentos dos olhos, como se pode conferir neste vídeo que nossa equipe produziu. TCL, para quem não sabe, é hoje um dos maiores fabricantes mundiais de eletrônicos, dona de marcas como Thomson, RCA e Alcatel (seu estande foi montado ao lado da Panasonic, um dos pontos mais concorridos da CES). “Agora que temos um bom esquema de distribuição nos EUA, vamos aumentar nossa presença nas lojas”, garantiu ao site CNet o chairman do grupo, Dong Sheng Li, citando os acordos que acabou de fechar com os dois maiores varejistas do mundo: Amazon e Best Buy. Mais ainda: a TCL acertou uma inédita parceria com os estúdios Marvel para coproduzir o terceiro filme da série Homem de Ferro, que está para ser lançado.

A Asus, acho que todo mundo conhece pelos notebooks de baixo custo e design diferente. E a Hisense é a que está chamando mais atenção na CES, entre outras coisas por exibir um dos maiores TVs da feira, um 4K com 110 polegadas (foto acima).

Quem sabe um dia você não vai ter um desses em casa.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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