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A “viúva” agora tem carteira digital

Quem foi que disse que o Brasil não tem uma política tecnológica?

O jornalista e escritor Elio Gaspari criou um personagem genial para simbolizar o contribuinte brasileiro, aquele que sempre acaba pagando pelas barbaridades cometidas pelos governantes: é a “viúva”, diz ele. Pois, nestes tempos moderninhos, parece que a viúva ganhou uma espécie de carteira digital, para poder arcar com os projetos que alguém em Brasilia inventa na área de tecnologia.

A notícia está no site do Ministério das Comunicações, que vai investir R$ 7 milhões na construção de um centro para produção e pós-produção de obras audiovisuais, jogos eletrônicos e aplicativos, localizado em Recife. Lá, como se sabe, já funciona há anos o Porto Digital, iniciativa do governo estadual para revitalizar uma área da cidade, onde foi construído um centro empresarial tecnológico. Ideia louvável, sem dúvida, à espera de ser copiada por outras metrópoles brasileiras que possuem áreas degradadas. Não conheço o local, portanto não vou me alongar aqui.

Só me estranha o governo federal estar investindo em algo que, teoricamente, seria responsabilidade do estadual e das empresas envolvidas (diz o site que lá estão, entre outras, Microsoft, HP, Samsung, LG e IBM). E num momento em que Ministério da Fazenda anuncia cortes em vários setores, após maquiar dados macroeconômicos para encobrir desajustes da economia como um todo. OK apoiar pontualmente o desenvolvimento tecnológico, ainda que não haja uma política para isso. Mas, com o dinheiro da viúva?

Para completar a farsa, o site menciona um assessor do Ministério, de nome James Görgen, que chama o local de “arranjo produtivo” entre várias empresas. “Estamos apostando nesse modelo colaborativo”, diz o assessor, explicando que o arranjo produtivo mais conhecido do mundo é o Vale do Silício, na Califórnia. Só esqueceu de um minúsculo detalhe: lá, todo o investimento partiu das empresas (Microsoft, HP, IBM e tantas outras). A viúva não entrou com um tostão.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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