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TV Digital x 4G: quem desata o nó?

Se tivéssemos um governo sério, e se esse governo tivesse uma política tecnológica, não haveria motivo para preocupação com a chegada da quarta geração de telefonia celular (a chamada 4G). Como em outros países, as redes seriam planejadas com boa antecedência, as operadoras comprariam suas frequências a preços de mercado, numa disputa aberta, e o usuário seria bem atendido, num prazo não muito longo.

Nada disso tem a ver com o que está acontecendo hoje. Corremos o risco de ter uma rede 4G que funcione até pior que a atual 3G. A julgar pelo que diz a maioria dos especialistas, está difícil desatar o nó que amarra a expansão da telefonia celular ao uso das frequências de televisão, como diz pretender o Ministério das Comunicações. Na última quinta-feira, a SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão), que representa as emissoras, saiu da sua habitual discrição e soltou um comunicado que é, no mínimo, preocupante.

O texto questiona os estudos que teriam sido feitos pelo Ministério e pela Anatel, segundo os quais é perfeitamente viável a convivência entre os sinais de celular 4G e os de TV digital aberta. “A SET teme que os estudos do governo tenham sido realizados com reuso demasiado de frequências, o que poderá comprometer tanto a qualidade das imagens oferecidas ao público, como a cobertura das estações digitais, que ficará reduzida relativamente às atuais coberturas analógicas.”

Não é a primeira vez que as emissoras levantam essa dúvida. Além de ter realizado testes no Brasil, a SET diz que recebeu relatos do Japão e da Europa indicando que os dois serviços causam interferência mútuas. “A interferência em TV digital significa TELA PRETA”, diz o comunicado da entidade, reforçando que os estudos já realizados revelam não haver solução para esse problema. E chega a levantar uma hipótese simplesmente alarmante: para amenizar as interferências, seria necessário instalar filtros em cada residência!!!

Estranho é que órgãos do governo, que deveriam ter capacitação técnica para isso, informem ter realizado “estudos internos” sobre tema tão complexo sem a participação das empresas (emissoras e operadoras), a quem caberá colocar tudo em funcionamento. Que estudos tão sigilosos teriam sido esses?

Bem, não vamos ficar aqui pensando no pior. Só imaginar algo mais ineficiente do que o 3G já provoca calafrios.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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