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O bom, o ruim e o barato

Um banner publicitário que circula pela internet explica a diferença entre produtos bons, bonitos e baratos:

“Se é bom e barato, não é bonito…

“Se é barato e bonito, não é bom…

“Se é bom e bonito, não é barato.”

Apesar dessa regrinha elementar, ainda tem gente acreditando na utopia. Uns o fazem ingenuamente, outros por uma suposta esperteza, e ambos, quando se dão conta, ficaram no prejuízo. O comentário vem a propósito de um spam que recebi hoje, oferecendo cabos HDMI 1.4 Ethernet por míseros R$ 9,99! Não vou aqui citar a fonte para não fazer propaganda, e espero que nenhum dos leitores caia nessa trapaça. A equipe da revista HOME THEATER & CASA DIGITAL acaba de concluir um estudo sobre a qualidade dos cabos HDMI à venda no Brasil. O objetivo é mostrar que, sim, há diferenças entre eles e que estas se refletem, evidentemente, nos preços.

E o que há de tão diferente entre os cabos, que à primeira olhada parecem absolutamente idênticos? Várias coisas. Começando pela mais visível: o acabamento. Um cabo com partes soltas ou moles já é para se desconfiar. Alguns fabricantes estão tentando reforçar esse conceito vendendo cabos com uma capa de proteção que pode ser aberta, permitindo ver a construção interna do cabo. Outros fazem isso virtualmente, em seus sites, mostrando em detalhes os componentes usados na fabricação. Na própria revista, há anúncios com foto do cabo aberto, o que ajuda a entender melhor o que está por trás de um projeto como esse. Por que será que alguns fabricantes investem milhões em pesquisas, testes, design e componentes mais confiáveis, enquanto outras não se preocupam com nada disso?

Um problema do padrão HDMI é que, apesar de dirigido por um consórcio internacional, do qual participam os principais fabricantes, não há controle sobre o que é produzido. Suas normas técnicas não passam de “recomendações” que, até pela natureza do produto, é impossível conferir de perto. Imaginem quantos cabos e conectores são distribuídos diariamente no mundo inteiro… só na China devem ser centenas de milhões. Como fiscalizar se todos os fabricantes estão obedecendo as normas? O resultado é que usa-se a marca “HDMI” nos mais diversos produtos, e o consumidor é que paga (mais detalhes sobre o assunto neste hot site).

Consumidor, no entanto, é um bicho preguiçoso. E não está sozinho. Tempos atrás, o jornalista Geoffrey Morrison, do site americano CNet, fez um artigo decretando que “todos os cabos HDMI são iguais” (aqui está a íntegra, em inglês). E recebeu elogios de vários leitores do site. Não se deu sequer ao trabalho de abrir dois ou três cabos para tirar a prova. Baseou-se em informações dos fabricantes, descartou aquelas que não lhe interessavam e declarou sua sentença. Exemplo clássico de uma velha regra do jornalismo, que ensina: quando os fatos não concordam com a notícia, danem-se os fatos!

Já existem até cabos HDMI que trazem dentro um chip, vejam só, para fazer o processamento e a filtragem do sinal. Claro, custam mais caro. Não entro no mérito se o preço é justo ou não, mas é fora de dúvida que há diferenças, algumas substanciais, entre os cabos top de linha das marcas mais conhecidas e aquele outro de “10 real”. E caímos, pela enésima vez, na questão das espertezas, preferidas por nove entre dez brasileiros, como analisamos neste artigo.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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