É sempre desagradável, mas extremamente necessário, comentar deslizes da imprensa. Na medida do possível, procuro me restringir, aqui, aos veículos que cobrem a área de tecnologia – meu amigo e mestre Moacir Japiassu dá conta de vasculhar as inúmeras bobagens publicadas por aí. Mas, no clima de competição despudorada em que se transformou a mídia brasileira nos últimos anos, às vezes é difícil passar batido.
Poderia (ou deveria?) ser o ponto final de uma discussão que só interessa a quem não está satisfeito com suas fatias de poder. Um debate que passa quilômetros ao largo do interesse da população em geral, a mesma que vem dando a Dilma índices de popularidade mais altos até que os do próprio Lula (índices esses, por sinal, comemorados efusivamente pelos petistas e seus aliados). “Temos de discutir menos apaixonadamente essa questão da mídia”, disse o ministro ao jornal O Estado de S.Paulo, repetindo o que já dissera algumas vezes a outros órgãos de imprensa. “Entendo que a democracia brasileira pressupõe mídia livre e liberdade de expressão. Não queremos mudar isso.”
Foi esse o “delito” de Bernardo, que evidentemente falava em nome de Dilma. Sem coragem para atacar a candidata à reeleição, Carta Capital elegeu o ministro como autor da iniciativa de enterrar o malfadado projeto. Segue assim, à risca, uma antiga tática de grupos políticos ameaçados de perder benesses: escolhe um “vilão” e concentra fogo nele, acrescentando o detalhe, no caso nada irrelevante, de que estaria a serviço das multinacionais – sempre elas, as multinacionais – e da todo-poderosa Globo (mais detalhes aqui). Ora, se a decisão é de Dilma, por que não colocá-la então na capa da revista e acusá-la de “defender oligopólios” e “dar um presente às operadoras”, como fizeram com Bernardo?
É assim a imprensa brasileira hoje. Em vez de noticiar e interpretar os fatos, ouvindo todos os lados envolvidos, presta um desserviço atrás de outro, atendendo a interesses que não podem ser tornados públicos. E contribui, tristemente, para perpetuar a ignorância que mantém o país entre os piores do mundo em educação, civilidade, no IDH e outros índices que realmente interessam.
PS.: apenas para não passar em branco, devo lembrar que, assim como Carta Capital e vários outros veículos de comunicação, sou totalmente a favor de mudanças na Lei das Comunicações, aquela que permite a propriedade cruzada e favorece o domínio dos políticos sobre as empresas do setor. É bom deixar claro, antes que me acusem também de ser “vendido” a alguém.
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