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Um país rejeitado

Falando em pesquisa, a CVA Solutions – que recentemente divulgou estudo sobre os hábitos dos consumidores brasileiros em relação à troca de TVs – acaba de divulgar trabalho semelhante, voltado à área de informática. A Folha de São Paulo publicou os detalhes, mas dois aspectos me chamaram a atenção. O primeiro, nada surpreendente, é que o parque instalado de notebooks no país já é maior que o de desktops. Os computadores portáteis respondem 55,6% do mercado, contra 42,4% dos modelos de mesa, sobrando ínfimos 2% para os tablets. A tendência é clara e irreversível: em 2010, a proporção era: 67,4% de residências com desktops para 32,6% com notebooks. Os dados foram obtidos a partir de 7.134 entrevistas em todo o país, e não levam em conta os aparelhos instalados em empresas (neste segmento, com certeza a maioria esmagadora ainda é de desktops).

O segundo ponto que merece análise na pesquisa é a constatação de que continua forte a rejeição aos produtos nacionais. Não chega a ser novidade (brasileiro nunca gostou de aparelhos feitos aqui), mas diante do crescimento da indústria nacional nos últimos anos, inclusive em vendas, era de se esperar que esse sentimento estivesse pelo menos em declínio. Nada disso. Na análise que a CVA chama de “valor percebido” (quando o usuário acredita que o custo-benefício do produto justifica a compra), as marcas estrangeiras dão de goleada: Samsung, Dell, Apple e Sony, sendo que a coreana vem crescendo de modo consistente. E, quando perguntados se querem trocar seu notebook, 80,2% dos entrevistados responderam que optariam por um Apple (Dell vem bem atrás, com 59,1%); a marca da maçã também lidera em desktops, embora nem de longe seja a mais vendida.

Na mesma pesquisa, quando se avalia a “força da marca” (diferença entre atração e rejeição), somente uma brasileira aparece entre as dez primeiras: a Itautec. Evidentemente, ninguém poderia esperar que as marcas nacionais aparecessem em igualdade com gigantes mundiais, ainda mais em tempos de globalização. Mas esse tipo de constatação deveria ser útil para abrir a cabeça dos que defendem políticas protecionistas e reservas de mercado (ainda que disfarçadas de outros nomes). Não precisamos chegar ao famoso “complexo de viralatas”, expressão criada pelo escritor Nelson Rodrigues na década de 1950, referindo-se à mania que os brasileiros tinham (ou têm?) de se considerar inferiores aos estrangeiros. Nem seria o caso de imitar os franceses, que, como ouvi certa vez de um crítico de cinema americano, “adoram elogiar filmes feitos na França, desde que não tenham que assisti-los”.

Não é por aí, penso eu. Basta um pouco de realismo e bom senso, artigos em falta atualmente no país. Se não se investe em educação básica, e até o futebol brasileiro já deixou de figurar entre os melhores do mundo, como exigir isso de nossa indústria eletrônica?

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • As fábricas nacionais de equipamentos de informática, em sua maioria esmagadora, nada produzem. Apenas montam algumas peças e fabricam as embalagens, os manuais, teclados e a fonte de alimentação - quando não vêm tudo de fora e aqui colocam apenas o logotipo. O pior é que os componentes nem sempre são de fabricantes de qualidade.
    Já tive Itautec e Amazon, que na verdade eram produtos OEM chineses e apenas o logotipo era aqui colocado. A bateria chegava ao cúmulo de colarem um adesivo por cima do original indicando fabricação nacional, quando na verdade era chinês - bastou arrancar o adesivo, pois precisa repor a bateria e não encontrava no mercado (outro mito que sendo nacional se acha peças). A chinesa - original verificando na etiqueta - achei rapidinho.
    Entre pagar um atravessador e comprar o original, prefiro o original - quase sempre mais barato. É triste, mas meu dinheiro é suado.

  • ora,quando tínhamos philco, cce e gradiente elas não davam o devido valor ao consumidor com relação ao produto e á assistência técnica; e quanto mais aos nomes delas mesmas, que com o tempo foi caindo no desgosto do consumidor.

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